Insultar Ă© uma Honra
Assim como ser insultado Ă© uma vergonha, insultar Ă© uma honra. Por exemplo, mesmo que a verdade, o direito e a razĂŁo estejam do lado do meu adversário, nĂŁo deixo de insultá-lo; desse modo, todas as suas qualidades passam a ser desconsideradas, e o direito e a honra passam a estar do meu lado. Ele, pelo contrário, perdeu provisoriamente a sua honra – atĂ© conseguir restabelecĂŞ-la, nĂŁo mediante direito e razĂŁo, mas por tiros e estocadas. Logo, a rudeza Ă© uma qualidade que, no ponto de honra, substitui ou se sobrepõe sobre as outras. O mais rude tem sempre razĂŁo: para quĂŞ tantas palavras? Qualquer estupidez, insolĂŞncia, maldade que alguĂ©m possa ter feito, uma rudeza retira-lhes essa caracterĂstica e elas sĂŁo de imediato legitimadas. Se, numa discussĂŁo ou conversa, outro indivĂduo mostra conhecimento mais correcto do assunto, um amor mais austero Ă verdade, um juĂzo mais saudável, mais entendimento que nĂłs, ou se em geral exibe mĂ©ritos intelectuais que nos deixam na sombra, entĂŁo podemos de imediato suprimir semelhantes superioridades e a nossa prĂłpria mesquinhez por elas revelada e sermos, por nosso turno, superiores, tornando-nos ofensivos e rudes.
Pois uma rudeza derrota todo o argumento e eclipsa qualquer espĂrito;
Textos sobre Nobres
85 resultadosTenho Saudades da CarĂcia dos Teus Braços
Tenho saudades da carĂcia dos teus braços, dos teus braços fortes, dos teus braços carinhosos que me apertam e que me embalam nas horas alegres, nas horas tristes. Tenho saudades dos teus beijos, dos nossos grandes beijos que me entontecem e me dĂŁo vontade de chorar. Tenho saudades das tuas mĂŁos (…) Tenho saudades da seda amarela tĂŁo leve, tĂŁo suave, como se o sol andasse sobre o teu cabelo, a polvilhá-lo de oiro. Minha linda seda loira, como eu tenho vontade de te desfiar entre os meus dedos! Tu tens-me feito feliz, como eu nunca tivera esperanças de o ser. Se um dia alguĂ©m se julgar com direitos a perguntar-te o que fizeste de mim e da minha vida, tu dize-lhe, meu amor, que fizeste de mim uma mulher e da minha vida um sonho bom; podes dizer seja a quem for, a meu pai como a meu irmĂŁo, que eu nunca tive ninguĂ©m que olhasse para mim como tu olhas, que desde criança me abandonaram moralmente que fui sempre a isolada que no meio de toda a gente Ă© mais isolada ainda. Podes dizer-lhe que eu tenho o direito de fazer da minha vida o que eu quiser,
A Luta de Classes Acabou
A luta de classes esfumou-se, dissolveu-se, a democracia tem funcionado como um diluente social: toda a gente vive, compra e acorre ao hipermercado, ao balcĂŁo do bar e aos concertos pagos pelo municĂpio na praça central, e todos falam ao mesmo tempo, vozes que se misturam como nas tumultuosas reuniões no cine Tivoli evocadas pelo meu pai, já nĂŁo se distingue o que está em cima do que está em baixo, está tudo enredado, confuso, e, porĂ©m, reina uma misteriosa ordem, eis a democracia. Mas, de sĂşbito, desde há um par de anos, parece desenhar-se uma ordem mais explĂcita, menos insidiosa. A nova ordem Ă© bem visĂvel, com os nĂveis superior e inferior bem definidos: alguns transportam com orgulho sacos repletos de compras e cumprimentam sorridentes os vizinhos Ă porta do centro comercial, outros remexem nos contentores onde os empregados do hipermercado lançaram as embalagens de carne fora de prazo, a fruta e as verduras pisadas, os pastĂ©is industriais caducados. Lutam entre si por esses alimentos.
(…) Trivial, a luta de classes? EntĂŁo nĂŁo era isso que determinava, que impregnava e condicionava tudo? O grande motor da histĂłria universal? NĂŁo era nisso que acreditavam o meu pai e os seus camaradas,
Hoje Tomei a DecisĂŁo de Ser Eu
Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura do meu mister, e, por isso, de desprezar a ideia do reclame, e plebeia sociabilizacão de mim, do Interseccionismo, reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressões pelos outros, na posse plena do meu Génio e na divina consciência da minha Missão. Hoje só me quero tal qual meu carácter nato quer que eu seja; e meu Génio, com ele nascido, me impõe que eu não deixe de ser.
Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou.
Nada de desafios à plebe, nada de girândolas para o riso ou a raiva dos inferiores. A superioridade não se mascara de palhaço; é de renúncia e de silêncio que se veste.
O último rasto de influência dos outros no meu carácter cessou com isto. Reconheci — ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e infantil de « lançar o Interseccionismo» — a tranquila posse de mim.
Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez. Nasci.
Poesia e Verdade
De facto, entre a poesia e a verdade existe uma natural oposição: falsa moral e natureza fictĂcia. O poeta sempre necessita de algo falso. Quando ele pretende fincar os seus fundamentos na verdade, o ornamento da sua superestrutura Ă© feito de ficções; a sua acção consiste em estimular as nossas paixões e excitar os nossos preconceitos. A verdade, a exactidĂŁo de todo o tipo, Ă© fatal Ă poesia. O poeta tem de olhar tudo atravĂ©s de meios coloridos e esforça-se a levar cada pessoa a fazer o mesmo. Existem espĂritos nobres, Ă© verdade, com os quais a poesia e a filosofia estĂŁo igualmente em dĂvida, mas essas excepções nĂŁo contrabalançam os danos resultantes dessa arte mágica.