A Necessidade da Filosofia
A filosofia nĂŁo brota por ser Ăștil, mas tĂŁo-pouco pela acção irracional de um desejo veemente. Ă constitutivamente necessĂĄria ao intelectual. PorquĂȘ? A sua nota radical era buscar o todo como um tal todo, capturar o Universo, caçar o UnicĂłrnio. Mas porquĂȘ esse profundo anseio? Por que nĂŁo nos contentamos com o que, sem filosofar, achamos no mundo, com o que jĂĄ Ă© e aĂ estĂĄ patente diante de nĂłs? Por esta simples razĂŁo: tudo o que Ă© e estĂĄ aĂ, quanto nos Ă© dado, presente, patente, Ă© por sua essĂȘncia um mero bocado, pedaço, fragmento, coto. E nĂŁo podemos vĂȘ-lo sem prever e verificar que estĂĄ a menos a porção que falta. Em todo o ser que Ă© dado, em todo o dado do mundo encontramos a sua essencial linha de fractura, o seu carĂĄcter de parte e sĂł parte – vemos a ferida da sua mutilação ontolĂłgica, grita-nos a sua dor de amputado, a sua nostalgia do bocado que lhe falta para ser completo, o seu divino descontentamento. HĂĄ doze anos, quando eu falava em Buenos Aires, definia o descontentamento «como um amar sem amado e uma como dor que sentimos em membros que nĂŁo temos». Ă o achar de menos o que nĂŁo somos,
Textos sobre Nostalgia de José Ortega y Gasset
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