Liberdade e Constrangimento SĂŁo Dois Aspectos da Mesma Necessidade
Liberdade e constrangimento sĂŁo dois aspectos da mesma necessidade, que Ă© ser aquele e nĂŁo um outro. Livre de ser aquele, nĂŁo livre de ser um outro. (…) NĂŁo há quem o nĂŁo saiba. Os que reclamam a liberdade reclamam a moral interior, para que nem assim o homem deixe de ser governado. O gendarme – dizem eles de si para si – está no interior. E os que solicitam a coacção afirmam-te que ela Ă© liberdade de espĂrito. Tu, na tua casa, tens a liberdade de atravessar as antecâmaras, de medir a passos largos as salas, uma por uma, de empurrar as portas, de subir ou descer as escadas. E a tua liberdade cresce Ă medida que aumentam as paredes e as peias e os ferrolhos. E dispões de um nĂşmero tanto maior de actos possĂveis onde escolher aquele que hás-de praticar, quantas mais obrigações te impĂ´s a duração das tuas pedras. E, na sala comum, onde assentas arraiais no meio da desordem, deixas de dispor de liberdade, passa a haver dissolução.
E, afinal de contas, todos sonham com uma e a mesma cidade. Mas um reclama para o homem, tal como ele Ă©, o direito de agir.
Textos sobre Números de Antoine de Saint-Exupéry
2 resultadosFelicidade com Poucos Bens
Embora a experiĂŞncia me tenha ensinado que se descobrem homens felizes em maior proporção nos desertos, nos mosteiros e no sacrifĂcio do que entre os sedentários dos oásis fĂ©rteis ou das ilhas ditas afortunadas, nem por isso cometi a asneira de concluir que a qualidade do alimento se opusesse Ă natureza da felicidade. Acontece simplesmente que, onde os bens sĂŁo em maior nĂşmero, oferecem-se aos homens mais possibilidades de se enganarem quanto Ă natureza das suas alegrias: elas, efectivamente, parecem provir das coisas, quando eles as recebem do sentido que essas coisas assumem em tal impĂ©rio ou em tal morada ou em tal propriedade. Para já, pode acontecer que eles, na abastança, se enganem com maior facilidade e façam circular mais vezes riquezas vĂŁs. Como os homens do deserto ou do mosteiro nĂŁo possuem nada, sabem muito bem donde lhes vĂŞm as alegrias e Ă©-lhes assim mais fácil salvarem a prĂłpria fonte do seu fervor.