A Irresponsabilidade da MultidĂŁo
A multidĂŁo que se chama parlamento nunca se sente tĂŁo feliz como quando pode calar com gritos um orador e derrubar um ministro; a multidĂŁo que se chama comĂcio agita-se e exalta-se, mal um grito a incita a bradar «Abaixo!» sob as janelas de um inimigo ou a reclamar a cabeça de um indivĂduo odiado ou ainda a queimar qualquer sĂmbolo do poder, quer se trate de um panfleto, quer de um palácio de justiça; a multidĂŁo reunida num teatro que dá pelo nome de pĂşblico pode aplaudir uma peça nova, mas, quando estimulada, nĂŁo hesita em condenar e precipitar Ă força de uivos e assobios quem supunha tĂŞ-lo conquistado e ser-lhe, pelo engenho, superior.
No fundo, toda a multidĂŁo Ă© um pĂşblico, que nĂŁo quer dispersar sem ter assistido a um espectáculo. No entanto, selvagem como Ă©, prefere os espectáculos trágicos; sente o circo dos gladiadores ou o torneio, mais do que a fábula pastoral. Quando se animaliza, quer sangue – pelo menos, vĂŞ-lo.
Estar entre muito incute a sensação de força, ou seja, da prepotência e, ao mesmo tempo, a certeza da irresponsabilidade e da absolvição.
Textos sobre Palácios de Giovanni Papini
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