Textos sobre Palavras de José Luís Peixoto

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Textos de palavras de José Luís Peixoto. Leia este e outros textos de José Luís Peixoto em Poetris.

Pai

Pai. A tarde dissolve-se sobre a terra, sobre a nossa casa. O cĂ©u desfia um sopro quieto nos rostos. Acende-se a lua. TranslĂșcida, adormece um sono cĂĄlido nos olhares. Anoitece devagar. Dizia nunca esquecerei, e lembro-me. Anoitecia devagar e, a esta hora, nesta altura do ano, desenrolavas a mangueira com todos os preceitos e, seguindo regras certas, regavas as ĂĄrvores e as flores do quintal; e tudo isso me ensinavas, tudo isso me explicavas. Anda cĂĄ ver, rapaz. E mostravas-me. Pai. Deixaste-te ficar em tudo. Sobrepostos na mĂĄgoa indiferente deste mundo que finge continuar, os teus movimentos, o eclipse dos teus gestos. E tudo isto Ă© agora pouco para te conter. Agora, Ă©s o rio e as margens e a nascente; Ă©s o dia, e a tarde dentro do dia, e o sol dentro da tarde; Ă©s o mundo todo por seres a sua pele. Pai. Nunca envelheceste, e eu queria ver-te velho, velhinho aqui no nosso quintal, a regar as ĂĄrvores, a regar as flores. Sinto tanta falta das tuas palavras. Orienta-te, rapaz. Sim. Eu oriento-me, pai. E fico. Estou. O entardecer, em vagas de luz, espraia-se na terra que te acolheu e conserva. Chora chove brilho alvura sobre mim.

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O Absoluto Ă© um Fardo InsuportĂĄvel

Para oferecer conforto rudimentar, retirei peso às palavras e às açÔes.
O conhecimento completo emudece as palavras e tolhe as açÔes.
O absoluto Ă© um fardo insuportĂĄvel.
A irresponsabilidade faz tanta falta como a responsabilidade, cada uma tem a sua hora,
os sĂĄbios usam-nas ao mesmo tempo, mais de uma ou mais de outra, tanto de uma como de outra,
os såbios conseguem distinguir as ocasiÔes e as medidas,
e nĂŁo duvidam que precisam de uma e de outra.