Intragável é Estar Parado
Intragável é estar parado. Não mudar. Aguentar. Sobreviver. Permanecer. Mesmo que seja pouco, mesmo que seja insuficiente. Manter tudo como está apenas para não correr o risco de ficar pior. Intragável é não perdoar, não ilibar. E só criticar, só apontar, só atacar. E não criar, não refazer, não imaginar. Intragável é não acreditar. Intragável é o que não é maravilhoso, o que não é delicioso, o que não é fantástico, monumental, abençoado, miraculoso, espantoso. Intragável é acordar para o dia a recusar o dia, a não querer o dia, a não apetecer o dia, a não pensar nas mil e uma maneiras de o tornar inesquecível. Deixar estar. Não mexer, não querer a ferida se for através da ferida que se chega à cura. Ser cauteloso, prevenido. Intragável é o que não é exagerado, o que não é desproporcionado, o que não parece incomportável. Se não parece incomportável, é insuportável. Não quero. Não admito. Não me admito. Intragável é repetir. Hoje como réplica exacta de ontem e como réplica exacta de amanhã. As mesmas coisas, as mesmas palavras, os mesmos actos, os mesmos movimentos. Sempre igual. Sempre o mesmo. Intragável é continuar por continuar, andar por andar, viver por viver.
Textos sobre Pecado de Pedro Chagas Freitas
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É o Amor o Monólogo Partilhado
É o amor o monólogo partilhado.
Depois do prazer dela era todo o mundo que fazia sentido. O orgasmo escorria como se percorre a vida. E havia o beijo final. O beijo depois do beijo. O beijo que nem sequer era um beijo. O beijo que nem sequer se beijava. O beijo que se vivia. Ele olhava-a e via a eternidade. Sabia que tudo o que agora celebrava seria tudo o que depois chorava. Ela olhava-o e via a verdade. Pensava: és o pecado que nem assim deixa de ser milagre. E ajoelhava.