Para um Grande EspĂrito Nada há que Seja Grande
Evitai tudo quanto agrade ao vulgo, tudo quanto o acaso proporciona; diante de qualquer bem fortuito parai com desconfiança e receio: tambĂ©m a caça ou o peixe se deixa enganar por esperanças falacciosas. Julgais que se trata de benesses da sorte? SĂŁo armadilhas! Quem quer que deseje passar a vida em segurança evite quanto possa estes benefĂcios escorregadios nos quais, pobres de nĂłs, atĂ© nisto nos enganamos: ao julgar possuĂ-los, deixamo-nos apanhar! Esta corrida leva-nos para o abismo; a Ăşnica saĂda para uma vida «elevada», Ă© a queda!
E mais: nem sequer poderemos parar quando a fortuna começa a desviar-nos da rota certa, nem ao menos ir a pique, cair instantaneamente: não, a fortuna não nos faz tropeçar, derruba-nos, esmaga-nos.
Prossegui, pois, um estilo de vida correcto e saudável, comprazendo o corpo apenas na medida do indispensável Ă boa saĂşde. Mas há que tratá-lo com dureza, para ele obedecer sem custo ao espĂrito: limite-se a comida a matar a fome, a bebida a extinguir a sede, a roupa a afastar o frio, a casa a servir de abrigo contra as intempĂ©ries. Que a habitação seja feita de ramos ou de pedras coloridas importadas de longe, Ă© pormenor sem interesse: ficai sabendo que para abrigar um homem tĂŁo bom Ă© o colmo como o ouro!
Textos sobre Pedras de SĂ©neca
2 resultadosOs Homens são como as Crianças
A atitude que nós temos para com as crianças é a atitude que o sábio tem para com todos os homens, que são pueris mesmo após a idade madura e os cabelos brancos. O que terão progredido estes homens, cujos males da sua alma apenas se tornaram em maiores males, que em forma e grandeza corporais tanto diferem das crianças, mas que em tudo o resto não são menos ligeiros e inconstantes, correndo atrás dos desejos sem reflectirem, agitados e que quando se aquietam é por medo, não por engenho seu?
Diria que aquilo que distingue as crianças dos homens é que a avidez das crianças é por dados, nozes e pequenas moedas de ouro, enquanto que a dos homens é pelo ouro e pela prata das cidades; uns imaginam magistrados entre eles mesmos e imitam a toga, o facho e o tribunal, os outros jogam os mesmos jogos, mas a sério, no Campo de Marte, no Fórum e na Cúria; uns, amontoando areia à beira-mar, constroem simulacros de casas, os outros, como quem executa uma grande obra, trabalhando a pedra na construção de paredes e tectos, fazem aquilo que os devia abrigar um verdadeiro perigo. Por isso, entre crianças e homens-feitos o erro é igual,