Aprender a Ler
Tive muita dificuldade em aprender a ler. NĂŁo me parecia lĂłgico que a letra «m» se chamasse «éme» e, no entanto, com a vogal seguinte nĂŁo se dissesse «éme» e sim «ma». Era-me impossĂvel ler assim. Por fim, quando cheguei ao Montessori, a professora nĂŁo me ensinou os nomes mas sim os sons das consoantes. Assim pude ler o primeiro livro que encontrei numa arca poeirenta da arrecadação da casa. Estava descosido e incompleto, mas absorveu-me de uma forma tĂŁo intensa que o namorado da Sara, ao passar, deixou cair uma premonição aterradora: «Caramba!, este menino vai ser escritor».
Dito por ele, que vivia de escrever, causou-me uma grande impressĂŁo. Passaram vários anos antes de saber que o livro era «As Mil e Uma Noites». O conto de que mais gostei – um dos mais curtos e o mais simples que li — continuou a parecer-me o melhor para o resto da minha vida, embora agora nĂŁo esteja seguro de que fosse lá que o li nem ninguĂ©m me tenha podido esclarecer. O conto Ă© este: um pescador prometeu a uma vizinha oferecer-lhe o primeiro peixe que pescasse se ela lhe emprestasse um chumbo para a sua rede e,
Textos sobre Pescadores de Gabriel GarcĂa Márquez
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