O Amor Indómito
Há casos de alucinação, extasis incendiados de fantasia, em que o homem subjuga ao seu transporte as férreas considerações sociais, fazendo-as reflexivas de todo o brilho da sua alegria. É por isso que as grandes paixões estão em divórcio com o juízo prudencial. No mar da vida o fanal do amor é o que mais resplende. Cegam-se os olhos e entendimento ao que mais ansiosamente o fita. Com a mente fixa nesse clarão esperançoso, que tão frouxas résteas de luz nos dá em paga de tremendos trabalhos, transcuram-se vagas e baixios que nos assaltam o pobre baixel. O amor indómito, fremente e tempestuoso é um naufrágio que se ama, uma dor com que se brinca, e, enfim, um delírio honroso em qualquer criatura.
Textos sobre Pobres de Camilo Castelo Branco
2 resultadosSe Queres Ser Feliz Abdica da Inteligência
Os tolos são felizes; eu se fosse casado eliminava os tolos da minha casa. Cada cidadão, que me fosse apresentado, não poderia sê-lo, sem exibir o diploma de sócio da academia real das ciências. Olha, criança, decora estas duas verdades que o Balzac não menciona na «Fisiologia do Casamento». Um erudito, ao pé da tua mulher, fala-lhe na civilização grega, na decadência do império romano, em economia politica, em direito publico, e até em química aplicada ao extracto do espírito de rosas. Confessa que tudo isto o maior mal que pode fazer à tua mulher é adormecê-la. O tolo não é assim. Como ignora e desdenha a ciência, dispara à queima roupa na tua pobre mulher quantos galanteios importou de Paris, que são originais em Portugal, porque são ditos num idioma que não é francês nem português.
Tua mulher, se tem a infelicidade de não ter em ti um marido doce e meigo, começa a comparar-te com o tolo, que a lisonjeia, e acha que o tolo tem muito juízo. Concedido juízo ao tolo, concede-se-lhe razão; concedida a razão, concede-se-lhe tudo. Ora aí tens porque eu antes queria ao pé de minha mulher o padre José Agostinho de Macedo,