Verosimilhança não é Verdade
Quase sempre as suspeitas nos inquietam; somos sempre o joguete desses boatos de opiniĂŁo, que tantas vezes põe em fuga um exĂ©rcito, quanto mais um simples indivĂduo. (…) nĂłs rendemo-nos prontamente Ă opiniĂŁo. NĂŁo fazemos a crĂtica das razões que nos levam ao temor, nĂŁo as esquadrinhamos. Perdemos todo o sangue-frio, batemos em retirada, como os soldados expulsos do seu campo Ă vista da nuvem de poeira que levanta uma tropa a galope, ou tomados de terror colectivo por causa de um boato semeado sem garante.
NĂŁo sei como, mas as falsidades perturbam-nos desde logo. A verdade traz consigo a sua prĂłpria medida; tudo quanto se funda sobre uma incerteza, porĂ©m, fica entregue Ă conjectura e Ă s fantasias de um espĂrito perturbado.
Eis porque, entre as mais diversas formas do medo, nĂŁo há outra mais desastrosa, mais incoercĂvel que o medo pânico. Nos casos ordinários, a reflexĂŁo Ă© falha; nestes, a inteligĂŞncia está ausente.
Interroguemos, pois, cuidadosamente a realidade. É verosĂmil que uma desgraça venha a produzir-se? Verosimilhança nĂŁo Ă© verdade. Quantos acontecimentos ocorreram sem que os esperássemos! Quantos acontecimentos esperados que jamais ocorreram! Mesmo que venham a produzir-se, que Ă© que lucraremos em nos anteciparmos Ă nossa dor?
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