O Pressuposto Indispensável para se Ser um Grande-Escritor
O pressuposto indispensável para se ser um grande-escritor Ă©, entĂŁo, o de escrever livros e peças de teatro que sirvam para todos os nĂveis, do mais alto ao mais baixo. Antes de produzir algum bom efeito, Ă© preciso primeiro produzir efeito: este princĂpio Ă© a base de toda a existĂŞncia como grande-escritor. É um princĂpio miraculoso, eficaz contra todas as tentações da solidĂŁo, por excelĂŞncia o princĂpio goethiano do sucesso: se nos movermos apenas num mundo que nos Ă© propĂcio, tudo o resto virá por si. Pois quando um escritor começa a ter sucesso dá-se logo uma transformação significativa na sua vida. O seu editor pára de se lamentar e de dizer que um comerciante que se torna editor se parece com um idealista trágico, porque faria muito mais dinheiro negociando com tecidos ou papel virgem. A crĂtica descobre nele um objecto digno da sua actividade, porque os crĂticos muitas vezes atĂ© nem sĂŁo más pessoas, mas, dadas as circunstâncias epocais pouco propĂcias, ex-poetas que precisam de um apoio do coração para poderem pĂ´r cá fora os seus sentimentos;sĂŁo poetas do amor ou da guerra, consoante o capital interior que tĂŞm de aplicar com proveito, e por isso Ă© perfeitamente compreensĂvel que escolham o livro de um grande-escritor e nĂŁo o de um comum escritor.
Textos sobre Poetas de Robert Musil
2 resultadosO Homem Certo
Hoje, numa Ă©poca em que se misturam todos os discursos, em que profetas e charlatĂŁes usam as mesmas fĂłrmulas com mĂnimas diferenças, cujo percurso nenhum homem ocupado tem tempo de seguir, num tempo em que as redacções dos jornais sĂŁo constantemente incomodadas por gente que acha que Ă© um gĂ©nio, Ă© muito difĂcil ajuizar do valor de um homem ou de uma ideia. Temos de nos deixar guiar pelo ouvido para podermos perceber se os rumores, os sussurros e o raspar de pĂ©s diante da porta da redacção sĂŁo suficientemente fortes para poderem ser admitidos como voz da polis. A partir desse momento, porĂ©m, o gĂ©nio passa a outra condição. Deixa de ser matĂ©ria fĂştil da crĂtica literária ou teatral, cujas contradições os leitores que qualquer jornal deseja ter levam tĂŁo pouco a sĂ©rio como a tagarelice de uma criança, para aceder ao estatuto de factos concretos, com todas as consequĂŞncias que isso tem.
Certos fanáticos insensatos ignoram a necessidade desesperada de idealismo que se esconde por detrás de tal situação. O mundo dos que escrevem porque têm de escrever está cheio de grandes palavras e conceitos que perderam a substância. Os atributos dos grandes homens e das grandes causas sobrevivem ao que quer que seja que lhes deu origem,