A Necessidade da Filosofia
A filosofia nĂŁo brota por ser Ăștil, mas tĂŁo-pouco pela acção irracional de um desejo veemente. Ă constitutivamente necessĂĄria ao intelectual. PorquĂȘ? A sua nota radical era buscar o todo como um tal todo, capturar o Universo, caçar o UnicĂłrnio. Mas porquĂȘ esse profundo anseio? Por que nĂŁo nos contentamos com o que, sem filosofar, achamos no mundo, com o que jĂĄ Ă© e aĂ estĂĄ patente diante de nĂłs? Por esta simples razĂŁo: tudo o que Ă© e estĂĄ aĂ, quanto nos Ă© dado, presente, patente, Ă© por sua essĂȘncia um mero bocado, pedaço, fragmento, coto. E nĂŁo podemos vĂȘ-lo sem prever e verificar que estĂĄ a menos a porção que falta. Em todo o ser que Ă© dado, em todo o dado do mundo encontramos a sua essencial linha de fractura, o seu carĂĄcter de parte e sĂł parte – vemos a ferida da sua mutilação ontolĂłgica, grita-nos a sua dor de amputado, a sua nostalgia do bocado que lhe falta para ser completo, o seu divino descontentamento. HĂĄ doze anos, quando eu falava em Buenos Aires, definia o descontentamento «como um amar sem amado e uma como dor que sentimos em membros que nĂŁo temos». Ă o achar de menos o que nĂŁo somos,
Textos sobre PorçÔes de José Ortega y Gasset
2 resultadosA InteligĂȘncia nĂŁo Ă© o Fundo do nosso Ser
A inteligĂȘncia nĂŁo Ă© o fundo do nosso ser. Pelo contrĂĄrio. Ă como uma pele sensĂvel, tentacular que cobre o resto do nosso volume Ăntimo, o qual por si Ă© sensu stricto ininteligente, irracional. BarrĂšs dizia isto muito bem: L’intelligence, quelle petite chose Ă la surface de nous. AĂ estĂĄ ela, estendida como um dintorno sobre o nosso ser mais interior, dando uma face Ă s coisas, ao ser – porque o seu papel nĂŁo Ă© outro senĂŁo pensar as coisas, pensar o ser, o seu papel nĂŁo Ă© ser o ser, mas reflecti-lo, espelhĂĄ-lo. Tanto nĂŁo somos ela que a inteligĂȘncia Ă© uma mesma em todos, embora uns dela tenham maior porção que outros. Mas a que tiverem Ă© igual em todos: 2 e 2 sĂŁo para todos 4. Por isso AristĂłteles e o averroĂsmo acreditaram que havia um Ășnico noĂ»s ou intelecto no Universo, que todos Ă©ramos, enquanto inteligentes, uma sĂł inteligĂȘncia. O que nos individualiza estĂĄ por trĂĄs dela.
Mas nĂŁo vamos agora espicaçar uma tĂŁo difĂcil questĂŁo. Baste o que foi dito para sugerir que em vĂŁo pretenderĂĄ a inteligĂȘncia lutar num match de convicção com as crenças irracionais, habituais. Quando um cientista sustĂ©m as suas ideias com uma fĂ© semelhante Ă fĂ© vital,