Textos sobre Preocupação

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Textos de preocupação escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Justa Medida do Esforço do Prazer

Os sábios bem ensinam a nos precavermos contra a traição dos nossos apetities e a discernir entre os prazeres verdadeiros e integrais e os prazeres díspares e mesclados com mais trabalhos. Pois a maioria dos prazeres, dizem eles, excitam e abraçam para nos estrangular (…). E, se a dor de cabeça nos viesse antes da embriaguez, evitaríamos beber demais. Mas a volúpia, para nos enganar, caminha à frente e oculta-nos o seu séquito. Os livros são aprazíveis; mas, se por frequentá-los perdemos afinal a alegria e a saúde, que são as nossas melhores partes, abandonemo-los. Sou dos que julgam que o seu fruto não pode contrabalançar essa perda. Como os homens que há longo tempo se sentem enfraquecidos por alguma indisposição se entregam por fim à mercê da medicina e deixam que lhes estabeleça artificialmente certas regras de viver para não mais ultrapassá-las, assim também aquele que se isola, entediado e desgostoso da vida em comum, deve conformar esta às regras da razão, deve organizá-la e ordená-la com premeditação e reflexão.
Deve dizer adeus a toda a espécie de esforço, sob qualquer aparência que se apresente; e fugir em geral das paixões que impedem a tranquilidade do corpo e da alma,

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Nada é Verdadeiramente Satisfatório

Nada é verdadeiramente satisfatório. Mesmo a arte a que um artista é vocacionado, e sobre a qual e para a qual vive, está sempre aquém do seu desejo. Nunca atinge aquele nível, aquele andar que desejaria. Está sempre a tentar, a aproximar-se do limite das possibilidades. No fundo, do absoluto. Um absoluto que se não atinge, [que se] ignora mesmo. A única coisa que sabemos ao certo é: ninguém nasce senão para morrer. Morrer mais cedo ou morrer mais tarde. Tem esse privilégio: acabar com a vida antes do fim natural dela. Se estiver desesperado, acontece. Justamente quando perde a esperança. Quando perde a esperança, perdeu tudo, e então liquida-se.

[Pensou alguma vez? Houve algum momento na sua vida tão desesperançado? Teve tantos reveses…]

Não. Suponho que ninguém deixa de pensar na morte. E quando se chega à minha idade, está-se mais consciente de que se aproxima o fim. Portanto, ele tem que se preparar para esse final. Há muita gente que conheci que se suicidou por isto ou por aquilo. E há o problema da eutanásia, quando o sofrimento é muito grande, a experiência é nula e as pessoas não podem sequer matar-se, têm que pedir que alguém as mate.

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A Violência Oculta

A primeira razão por que a violência maior actua de modo silencioso, e das poucas vezes que falamos dela falamos apenas da ponta do icebergue. Nós acreditamos que estamos perante fenómenos de violência apenas quando essa tensão assume proporções visíveis, quando ela surge como espectáculo mediático. Mas esquecemos que existem formas de violência oculta que são gravíssimas. Esquecemos, por exemplo, que todos os dias, no nosso país, são sexualmente violentadas crianças. E que, na maior parte das vezes, os agressores não são estranhos. Quem viola essas crianças são principalmente parentes. Quem pratica esse crime é gente da própria casa.

Nós temos níveis altíssimos de violência doméstica, em particular, de violência contra a mulher. Mas esse assunto parece ser preocupação de poucos. Fala-se disso em algumas ONGs, em alguns seminários. A Lei contra a violência doméstica ainda não foi aprovada na Assembleia da República.

Existem várias outras formas invisíveis de violência. Existe violência quando os camponeses são expulsos sumariamente das suas terras por gente poderosa e não possuem meios para defender os seus direitos. Existe uma violência contida quando, perante o agente corrupto da autoridade, não nos surge outra saída senão o suborno. Existe, enfim, a violência terrível que é o vivermos com medo.

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A Revitalização da Vida

O primeiro contacto com os mistérios da vida foi-me dado pela minha mãe, através das leituras diárias que ela me fazia da mitologia grega. Então eu habituei-me a venerar as forças naturais e devo dizer-lhe que isso é preocupação da minha poesia e não só, mas que se afirma particularmente no livro de poemas que publicarei no próximo ano. A minha orientação está muito ligada à repaganização da vida. Ou seja, a revitalização da vida. Veja que os antigos, os Gregos, por exemplo, personificavam as forças naturais em deuses e assim elas eram respeitadas e sagradas. O cristianismo veio imolar os cultos pagãos numa determinada fase da humanidade. Talvez fosse necessário nessa altura! Apenas hoje, com os prejuízos que a natureza está a sofrer, eu penso se não será necessário repaganizar outra vez o nosso sentir perante a natureza.

Cada Indivíduo é Único

A vida é, intrinsecamente, uma tremenda aceitação inconsciente. Aceitou totalmente os seus olhos? Aceitou totalmente o seu corpo? Aceitou totalmente a vida que leva? Esta ideia de aceitação total que nos é imposta torna-nos infelizes, porque está continuamente a fazer comparações. Há sempre alguém que tem uns olhos mais bonitos, um corpo mais forte e que possui mais conhecimentos. E a pessoa sente-se sempre inferior e esta inferioridade vai-nos corroendo o coração. Tornamo-nos cada vez mais infelizes, mas o motivo foi criado desnecessariamente por nós. Não há necessidade de nos compararmos com os outros, porque não existe ninguém com quem nos possamos comparar.
Cada indivíduo é único. E seja o que for, é dessa maneira que a existência quer que esse indivíduo seja. Desfrute disso.
Substitua a palavra «aceitação», porque não é uma palavra muito feliz. Aceitação é uma coisa que tem de se fazer, não há alternativa. Há pessoas mais bonitas, há pessoas mais ricas, há pessoas mais fortes. E o que é que podemos fazer? Aceitar.
Eu não ensino a aceitação desta maneira. A minha ideia de aceitação é completamente diferente da de todas as religiões.
Eu proclamo a sua unicidade.
Cada um de nós é apenas aquela pessoa particular e não existe ninguém –

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A Vida em Pleno

Diariamente criticamos o destino: “Porque foi este homem arrebatado a meio da carreira? E aquele, porque não morre, em vez de prolongar uma velhice tão penosa para ele como para os outros?” Diz-me cá, por favor: o que achas tu mais justo, seres tu a obedecer à natureza ou a natureza a ti? Que diferença faz sair mais ou menos depressa de um sítio de onde temos mesmo de sair? Não nos devemos preocupar em viver muito, mas sim em viver plenamente; viver muito depende do destino, viver plenamente, da nossa própria alma. Uma vida plena é longa quanto basta; e será plena se a alma se apropria do bem que lhe é próprio e se apenas a si reconhece poder sobre si mesma. Que interessa os oitenta anos daquele homem passados na inacção? Ele não viveu, demorou-se nesta vida; não morreu tarde, levou foi muito tempo a morrer! “Viveu oitenta anos!”. O que importa é ver a partir de que data ele começou a morrer. “Mas aquele outro morreu na força da vida”. É certo, mas cumpriu os deveres de um bom cidadão, de um bom amigo, de um bom filho, sem descurar o mínimo pormenor; embora o seu tempo de vida ficasse incompleto,

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Os Comunistas

… Passaram bastantes anos desde que ingressei no Partido… Estou contente… Os comunistas constituem uma boa família… Têm a pele curtida e o coração valoroso… Por todo o lado recebem pauladas… Pauladas exclusivamente para eles… Vivam os espiritistas, os monárquicos, os aberrantes, os criminosos de vários graus… Viva a filosofia com fumo mas sem esqueletos… Viva o cão que ladra e que morde, vivam os astrólogos libidinosos, viva a pornografia, viva o cinismo, viva o camarão, viva toda a gente menos os comunistas… Vivam os cintos de castidade, vivam os conservadores que não lavam os pés ideológicos há quinhentos anos… Vivam os piolhos das populações miseráveis, viva a força comum gratuita, viva o anarco-capitalismo, viva Rilke, viva André Gide com o seu coribantismo, viva qualquer misticismo… Tudo está bem… Todos são heróicos… Todos os jornais devem publicar-se… Todos devem publicar-se, menos os comunistas… Todos os políticos devem entrar em São Domingos sem algemas… Todos devem festejar a morte do sanguinário Trujillo, menos os que mais duramente o combateram… Viva o Carnaval, os derradeiros dias do Carnaval… Há disfarces para todos… Disfarces de idealistas cristãos, disfarces de extrema-esquerda, disfarces de damas beneficentes e de matronas caritativas… Mas, cuidado, não deixem entrar os comunistas…

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O Medo da Morte só se Justifica na Juventude

Algumas pessoas idosas vivem obcecadas com o medo da morte. Este sentimento só se justifica na juventude. Os jovens que receiam, com razão, morrer na guerra, podem legitimamente sentir a amargura do pensamento de terem sido defraudados do melhor que a vida lhes podia oferecer. Mas num velho que conheceu já as alegrias e dores humanas e que cumpriu a sua missão, qualquer que fosse, o receio da morte é algo de abjecto e ignóbil. O melhor meio de o vencer – pelo menos quanto a mim – é aumentar gradualmente as nossas preocupações, torná-las cada vez mais impessoais, até ao momento em que, a pouco e pouco, os limites da nossa personalidade recuem e a nossa vida mergulhe mais ainda na vida universal.
Pode-se comparar a existência de um indivíduo a um rio – pequeno a princípio, estreitamente encerrado entre duas margens, arremetendo, com entusiasmo, primeiro os seixos e depois as cataratas. A pouco e pouco, o rio alarga-se, as suas margens afastam-se, a água corre mais calmamente e, por fim, sem nenhuma mudança brusca, desagua no oceano e perde sem sofrimento a sua existência individual.
O homem que na velhice pode ver a sua vida desta maneira,

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Da Índole dos Homens

A índole é, muitas vezes, ocultada; outras, subjugada; quase nunca extinta. A força faz a índole mais violenta, em represália; a doutrina e o discurso tornam-a menos importuna; somente o costume alcança alterá-la e refreá-la. Àquele que busca vencer a sua própria índole não se deve propor tarefas nem muito grandes nem muito pequenas; as primeiras tornar-le-ão desalentado ante os sucessivos fracassos; as outras, devido às repetidas vitórias, tornar-le-ão convencido. A princípio, deve-se adestrar com auxílios, como o fazem os nadadores com bexigas ou cortiças; mas ao cabo de certo tempo, é mister se adestre com desvantagens, como os dançarinos com sapatos pesados. Chega-se a grande perfeição quando a prática é mais árdua do que o uso. Quando a índole é pujante e, por consequência, difícil de vencer, o primeiro passo será resistir-lhe e deter-lhe os ímpetos a tempo, a exemplo daquele que, quando estava irado, repetia as vinte e quatro letras do alfabeto; em seguida, racioná-la em quantidade, como o que, proibido de beber vinho, passou dos repetidos brindes a um trago nas refeições; por fim, anulá-la de todo.
Não erra o antigo preceito em recomendar que, para endireitar a índole, se a encurve até ao extremo contrário,

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Receita para o Sucesso e Boa Fama

Nunca te lances em várias empresas ao mesmo tempo: não serás admirado por te dispersares. Mais vale ser bem sucedido numa única, mas brilhante. Falo por experiência.
No início da tua carreira, não te poupes nem a longas horas de reflexão nem aos mais rudes esforços. Também não tomes iniciativas, se não tiveres a certeza de ter bom êxito. Tão brilhante quando te estreias como em qualquer outra coisa: uma vez conquistada a fama, mesmo os teus erros serão títulos de glória.
Quando estiveres assoberbado por um assunto que te compete, recusa completamente tudo o que possa distrair a tua atenção. De facto, se se perceber que faltaste – ainda que minimamente – aos deveres do teu cargo, imediatamente isso te será apontado. E, não obstante tudo o mais que possas ter feito, não obstante o fardo das preocupações que te oprimiam, a tua falha será imputada a essa tarefa suplementar.
Quando te lanças numa empresa, nunca te associes a uma pessoa mais competente ou mais experiente que tu. De igual modo, quando visitas alguém, não te faças acompanhar por um terceiro que tenha melhores relações com o anfitrião que tu.
Se tiveres de deixar um cargo,

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O Desejo do Homem é Contrário à Sua Unidade

Houve tempo em que o homem inventou o amor cortês para não perder a intimidade das mulheres. Elas estavam a ser atraídas pela formidável influência da Igreja que as recebia permitindo-lhes uma personalidade estável. As mulheres amam essa personalidade estável que Freud soube preservar nas suas relações com Marta, a mulher de toda a sua vida. Ler a correspondência de Freud com Marta é muito salutar neste mundo a abarrotar de esgotamentos nervosos e falsas ou reais confidências. Um dos seus clientes (Schonberg) causava-lhe grande preocupação. Um dia, a cunhada, vendo o doente cumprimentar uma senhora, disse: «O facto de ele ser outra vez bem educado com as mulheres é também um índice de melhoria». Freud não deixa de referir isto, que corresponde a uma personalidade venerável. As mulheres acham que é sinal de normalidade serem tratadas com cortesia. O desejo não lhes diz nada, comparado com uma palavra doce e conveniente. Isto não é uma síntese do comportamento dos homens e das mulheres. Mas sim uma certeza – o que não proíbe toda a espécie de averbamentos necessários à verdade.

Nietzsche, imoralista por definição, disse que não há nada mais contrário ao gosto do que o homem que deseja.

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O que Distingue um Amigo Verdadeiro

Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar — todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas. Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas.

Os amigos, como acontece com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é um dos custos da amizade. O que é bom sai caro. A tendência automática é para ter um máximo de amigos ou mesmo ser amigo de toda a gente. Trata-se de uma espécie de promiscuidade, para não dizer a pior. Não se pode ser amigo de todas as pessoas de que se gosta. Às vezes, para se ser amigo de alguém,

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A Civilização e o Horror ao Vácuo

A expansão imperialista das grandes potências é um facto de crescimento, o transbordar naturalíssimo de um excesso de vidas e de uma sobra de riquezas em que a conquista dos povos se torna simples variante da conquista de mercados. As lutas armadas que daí resultam, perdido o encanto antigo, transformam-se, paradoxalmente, na feição ruidosa e acidental da energia pacífica e formidável das indústrias. Nada dos velhos atributos românticos do passado ou da preocupação retrógrada do heroísmo. As próprias vitórias perderam o significado antigo. São até dispensáveis. (…) Estão fora dos lances de génio dos generais felizes e do fortuito dos combates. Vagas humanas desencadeadas pelas forças acumuladas de longas culturas e do próprio génio de raça, podem golpeá-las à vontade os adversários que as combatem e batem debatendo-se, e que se afogam. Não param. Não podem parar. Impele-as o fatalismo da própria força. Diante da fragilidade dos países fracos, ou das raças incompetentes, elas recordam, na história, aquele horror ao vácuo, com que os velhos naturalistas explicavam os movimentos irresistíveis da matéria. Revelam quase um fenômeno físico. Por isso mesmo nesta expansão irreprimível, não é do direito, nem da Moral com as mais imponentes maiúsculas, nem de alguma das maravilhas metafísicas de outrora que lhes despontam obstáculos.

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O Vento que Decidirmos Ser

Uma das mais importantes escolhas que cada um de nós deve fazer é a de escolhermos qual o foco prin-cipal da nossa atenção e cuidado. Se o mundo à nossa volta, a fim de o mudar, ou se o interior de nós mesmos.

Quase todos os bens e males da nossa existência partem do nosso interior, pelo que será aí que importa aperfeiçoar, de forma profunda, tudo o que existe no nosso íntimo.

Um dos trabalhos mais importantes de cada um de nós será o de saber bem o que queremos. O segredo da felicidade pode estar aí: alterar em nós o que nos possa estar a causar desnecessárias ansiedades. Quantas vezes desejamos algo que está fora da nosso controlo?
Existem três tipos de coisas: as que dependem apenas de nós; as que escapam por completo à nossa decisão; e, aquelas sobre as quais temos algum controlo, mas não total.

Se fizermos a nossa alegria depender de algo que não está na nossa mão, então será fácil que nos sinta-mos roubados de algo que, na verdade, nunca foi nosso. Mesmo nos casos em que o conseguimos obter, a ansiedade associada à posse, até pela iminência de o perder da mesma forma que o ganhámos,

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A Moda

As variações da sensibilidade sob a influência das modificações do meio, das necessidades, das preocupações, etc., criam um espírito público que varia de uma geração para outra e mesmo muitas vezes no espaço de uma geração. Esse espírito publico, rapidamente dilatado por contacto mental, determina o que se chama a moda. Ela é um possante factor de propagação da maior parte dos elementos da vida social, das nossas opiniões e das nossas crenças.
Não é só o vestuário que se submete às suas vontades. O teatro, a literatura, a política, a arte, as próprias idéias científicas lhe obedecem, e é por isso que certas obras apresentam um fundo de semelhança que permite falar do estilo de uma época.
Em virtude da sua acção inconsciente, submetemo-nos à moda sem que o percebamos. Os espíritos mais independentes a ela não se podem subtrair. São muito raros os artistas, os escritores que ousam produzir uma obra muito diferente das ideias do dia.
A influência da moda é tão pujante que ela obriga-nos, por vezes, a admirar coisas sem interesse e que parecerão mesmo de uma fealdade extrema, alguns anos mais tarde. O que nos impressiona numa obra de arte é muito raramente a obra em si mesma,

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A Origem do Medo

A condição psicológica do medo está divorciada de qualquer perigo concreto e real. Surge sob diversas formas: desconforto, preocupação, ansiedade, nervosismo, tensão, temor, fobia, etc. Este tipo de medo psicológico é sempre algo que poderá acontecer e não algo que esteja a acontecer no momento. O leitor está aqui e agora, enquanto a sua mente se encontra no futuro. Este facto gera um hiato de ansiedade. Além disso, se o leitor se identificar com a sua mente e tiver perdido o contacto com o poder e a simplicidade do Agora, esse hiato de ansiedade acompanhá-lo-á constantemente.

A pessoa pode sempre lidar com o momento presente, mas não o consegue fazer com algo que é apenas uma projeção mental – não é possível lidar com o futuro.
E enquanto o leitor se identifica com a sua mente, o ego comanda a sua vida. Devido à natureza ilusória que lhe é característica e apesar dos mecanismos de defesa elaborados, o ego torna-se muito vulnerável e inseguro, vendo-se a si próprio constantemente sob ameaça. Este facto, a propósito, é o que acontece, mesmo que por fora o ego pareça muito confiante. Agora lembre-se de que uma emoção é a reação do corpo à mente.

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A Regra Fundamental de Vida

Quando nós dizemos o bem, ou o mal… há uma série de pequenos satélites desses grandes planetas, e que são a pequena bondade, a pequena maldade, a pequena inveja, a pequena dedicação… No fundo é disso que se faz a vida das pessoas, ou seja, de fraquezas, de debilidades… Por outro lado, para as pessoas para quem isto tem alguma importância, é importante ter como regra fundamental de vida não fazer mal a outrem. A partir do momento em que tenhamos a preocupação de respeitar esta simples regra de convivência humana, não vale a pena perdermo-nos em grandes filosofias sobre o bem e sobre o mal. «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti» parece um ponto de vista egoísta, mas é o único do género por onde se chega não ao egoísmo mas à relação humana.

A Actualidade em Poesia

Uma coisa é poesia actual, outra coisa é actualidade em poesia. A actualidade em poesia compreende um tempo específico, que não só não é o tempo subordinado ao espaço no qual o poeta se move, como até entra em conflito com este.
Fazer poesia actual não é escrever versos destinados a terem êxito na actualidade representada pelo público e pela critica, porque esta é o atraso de um tempo de que o poeta é o avanço. Suspeito é o poeta sempre que agradavelmente afeiçoa os seus versos a uma comum sensibilidade literária. Não estou fazendo o elogio da poesia obscura ou ambiciosamente original. O gosto literário de uma época pode ser precisamente a obscuridade e a originalidade. É o que acontece com a nossa. E neste caso originalidade como recurso é poeticamente estéril, porque não fascina mas apenas satisfaz. Nada menos original do que a acomodatícia originalidade da poesia dos nossos dias e também nada menos actual por isso mesmo. Quer um exemplo? A última poesia feita com excrescências do Surrealismo execrado pelos seus parasitas. Nalguns casos é uma sufocada montagem de imagens achadas no cesto dos papéis do Surrealismo. Proclama-se uma renovação morfológica investindo de maior poder a palavra,

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Um Certo Grau de Desafogo

Depressa compreendi como para um homem na minha posição se tornava indispensável uma certa riqueza. Seria tão desagradável para mim ter uma excessiva fortuna, como não ter nenhuma. A dignidade e o respeito próprios são inseparáveis de um certo grau de desafogo. Eis o que eu aprecio, aquilo de que eu necessito – mais do que as pequenas comodidades que uma riqueza relativa permite. O que se segue a esta necessidade de independência é a tranquilidade de espírito: é sentir-se livre dos cuidados e dos empreendimentos ignóbeis que acarretam sempre as dificuldades monetárias. É necessária uma grande prudência para chegar a este estado fundamental e mantermo-nos nele; é preciso ter constantemente em mente a necessidade desta calma e desta falta de preocupações materiais, que nos permite entregarmo-nos completamente aos empreendimentos mais elevados e que impede que a nossa alma e o nosso espírito se degradem.