A Escola
NĂŁo podemos negar que a escola nĂŁo deu aos seus alunos todas as possibilidades que lhes devia dar, desprezou os mal dotados, obrigou-os a actos ou tarefas que lhes depuseram na alma as primeiras sementes do despeito ou da revolta, lhes deu, pelo quase exclusivo cuidado que votou ao saber, deixando na sombra o que Ă© o mais importante — formação do carácter e desenvolvimento da inteligĂŞncia —, todas as condições para virem a ser o que sĂŁo agora; se nĂŁo saĂram da escola com amor Ă escola, a culpa nĂŁo Ă© deles, mas da escola. Acresce ainda que, lançados na vida, a escola nunca mais procurou atraĂ-los, nunca mais foi ao encontro dos seus antigos alunos, para lhes aumentar a cultura, os informar e esclarecer sobre novas orientações de espĂrito, para lhes pedir a sua colaboração, o seu interesse na educação das gerações mais moças. Houve um corte de relações, quando a sua manutenção poderia ainda de algum modo apagar as más lembranças que os alunos levavam. Que admira que sintamos agora Ă nossa volta paixĂŁo e rancor? Tivemo-los nas nossas mĂŁos e nĂŁo fizemos por eles tudo quanto podĂamos, mesmo com as possibilidades econĂłmicas e pedagĂłgicas de que nos cercara o meio;
Textos sobre Principais de Agostinho da Silva
3 resultadosOs MalefĂcios da Rivalidade na Escola
Poucas serĂŁo as escolas em que o mestre nĂŁo anime entre os alunos o espĂrito de emulação; aos mais atrasados apontam-se os que avançaram como marcos a atingir e ultrapassar; e aos que ocuparam os primeiros lugares servem os do fim da classe de constantes esporas que os nĂŁo deixam demorar-se no caminho, cada um se vigia a si e aos outros e a si prĂłprio apenas na medida em que se estabelece um desnĂvel com o companheiro que tem de superar ou de evitar.
A mesquinhez de uma vida em que os outros não aparecem como colaboradores, mas como inimigos, não pode deixar de produzir toda a surda inveja, toda a vaidade, todo o despeito que se marcam em linhas principais na psicologia dos estudantes submetidos a tal regime; nenhum amor ao que se estuda, nenhum sentimento de constante enriquecer, nenhuma visão mais ampla do mundo; esforço de vencer, temor de ser vencido; é já todo o temperamento de «struggle» que se afina na escola e lançará amanhã sobre a terra mais uma turma dos que tudo se desculpam.
Quem nĂŁo sabe combater ou nĂŁo tem interesse pela luta ficará para trás, entre os piores; e Ă© certamente esta predominância dada ao espĂrito de batalha um dos grandes malefĂcios dos sistemas escolares assentes sobre a rivalidade entre os alunos;
A Verdadeira Virtude
NĂŁo se pode pensar em virtude sem se pensar num estado e num impulso contrários aos de virtude e num persistente esforço da vontade. Para me desenhar um homem virtuoso tenho que dar relevo principal ao que nele Ă© voluntário; tenho de, talvez em esquema exagerado, lhe pĂ´r acima de tudo o que Ă© modelar e conter. Pela origem e pelo significado nĂŁo posso deixar de a ligar Ă s fortes resoluções e Ă coragem civil. E um contĂnuo querer e uma contĂnua vigilância, uma batalha perpĂ©tua dada aos elementos que, entendendo, classifiquei como maus; requer as nĂtidas visões e as almas destemidas.
Por isso não me prende o menino virtuoso; a bondade só é nele o estado natural; antes o quero bravio e combativo e com sua ponta de maldade; assim me dá a certeza de que o terei mais tarde, quando a vontade se afirmar e a reflexão distinguir os caminhos, com material a destruir na luta heróica e a energia suficiente para nela se empenhar. O que não chora, nem parte, nem esbraveja, nem resiste aos conselhos há-de formar depois nas massas submissas; muitas vezes me há-de parecer que a sua virtude consiste numa falta de habilidade para urdir o mal,