A Sabedoria do Homem Comum
Os ignorantes e o homem comum nĂŁo tĂŞm problemas. Para eles na Natureza tudo está como deve estar. Eles compreendem as coisas pela simples razĂŁo delas existirem. E, na realidade, nĂŁo dĂŁo eles provas de mais razĂŁo do que todos os sonhadores, que chegam a duvidar do seu prĂłprio pensamento? Morre um dos seus amigos, e como julgam saber o que Ă© a morte Ă dor que sentem por o perderem nĂŁo acrescentam a cruel ansiedade que resulta da impossibilidade de aceitar um acontecimento tĂŁo natural… Estava vivo, e agora encontra-se morto; falava-me, o seu espĂrito prestava atenção ao que eu lhe dizia, mas hoje já nada disso existe: resta apenas aquele tĂşmulo – mas repousa ele nesse tĂşmulo, tĂŁo frio como a prĂłpria sepultura? Erra a sua alma em redor desse monumento? Quando eu penso nele Ă© a sua alma que vem assolar a minha memĂłria? O hábito traz-nos de novo, contudo, ao nĂvel do homem comum.
Quando o seu rasto se tiver apagado – não há dúvidas de que ele morreu! – então a coisa deixará de nos incomodar. Os sábios e os pensadores parecem portanto menos avançados que o homem comum, já que eles próprios não têm a certeza,
Textos sobre Problemas de Eugène Delacroix
2 resultadosÉ por ter EspĂrito que me Aborreço
É preciso esconjurar, da forma que nos for possĂvel, este diabo de vida que nĂŁo sei porque Ă© que nos foi dada e que se torna tĂŁo facilmente amarga se nĂŁo opusermos ao tĂ©dio e aos aborrecimentos uma vontade de ferro. É preciso, numa palavra, agitar este corpo e este espĂrito que se delapidam um ao outro na estagnação e numa indolĂŞncia que se confunde com um torpor. É preciso passar, necessariamente, do descanso ao trabalho – e reciprocamente: sĂł assim estes parecerĂŁo, ao mesmo tempo, agradáveis e salutares. Um desgraçado que trabalhe sem cessar, sob o peso de tarefas inadiáveis, deve ser, sem dĂşvida, extremamente infeliz, mas um indivĂduo que nĂŁo faça mais do que divertir-se nĂŁo encontrará nas suas distracções nem prazer nem tranquilidade; sente que luta contra o tĂ©dio e que este o prende pelos cabelos – como se fosse um fantasma que se colocasse sempre por detrás de cada distracção e espreitasse por cima do nosso ombro.
NĂŁo julgue, cara amiga, que eu sĂł porque trabalho regularmente estou isento das investidas deste terrĂvel inimigo; penso que, quando se tem uma certa disposição de espĂrito, Ă© preciso termos uma imensa energia de forma a nĂŁo nos deixarmos absorver e conseguir escapar,