O Estilo Ă© um Reflexo da Vida
Qual a causa que provoca, em certas Ă©pocas, a decadĂŞncia geral do estilo ? De que modo sucede que uma certa tendĂŞncia se forma nos espĂritos e os leva Ă prática de determinados defeitos, umas vezes uma verborreia desmesurada, outras uma linguagem sincopada quase Ă maneira de canção? Porque Ă© que umas vezes está na moda uma literatura altamente fantasiosa para lá de toda a verosimilhança, e outras a escrita em frases abruptas e com segundo sentido em que temos de subentender mais do que elas dizem? Porque Ă© que nesta ou naquela Ă©poca se abusa sem restrições do direito Ă metáfora? Eis o rol dos problemas que me pões. A razĂŁo de tudo isto Ă© tĂŁo bem conhecida que os Gregos atĂ© fizeram dela um provĂ©rbio: o estilo Ă© um reflexo da vida! De facto, assim como o modo de agir de cada pessoa se reflecte no modo como fala, tambĂ©m sucede que o estilo literário imita os costumes da sociedade sempre que a moral pĂşblica Ă© contestada e a sociedade se entrega a sofisticados prazeres. A corrupção do estilo demonstra plenamente o estado de dissolução social, caso, evidentemente, tal estilo nĂŁo seja apenas a prática de um ou outro autor,
Textos sobre Problemas de SĂ©neca
3 resultadosAjuda entre Sábios
Estás interessado em saber se um sábio pode ser Ăştil a outro sábio. NĂłs definimos o sábio como um homem dotado de todos os bens no mais alto grau possĂvel. A questĂŁo está pois em saber como Ă© possĂvel alguĂ©m ser Ăştil a quem já atingiu o supremo bem. Ora, os homens de bem sĂŁo Ăşteis uns aos outros. A sua função Ă© praticar a virtude e manter a sabedoria num estado de perfeito equilĂbrio. Mas cada um necessita de outro homem de bem com quem troque impressões e discuta os problemas. A perĂcia na luta sĂł se adquire com a prática; dois mĂşsicos aproveitam melhor se estudarem em conjunto. O sábio necessita igualmente de manter as suas virtudes em actividade e, por isso mesmo, nĂŁo sĂł se estimula a si prĂłprio como se sente estimulado por outro sábio. Em que pode um sábio ser Ăştil a outro sábio? Pode servir-lhe de incitamento, pode sugerir-lhe oportunidades para a prática de acções virtuosas. AlĂ©m disso, pode comunicar-lhe as suas meditações e dar-lhe conta das suas descobertas. Nunca faltará mesmo ao sábio algo de novo a descobrir, algo que dĂŞ ao seu espĂrito novos campos a explorar.
Os indivĂduos perversos fazem mal uns aos outros,
Leitura e Escrita
A leitura, Ă© de facto, em meu entender, imprescindĂvel: primeiro, para me nĂŁo dar por satisfeito sĂł com as minhas obras, segundo, para, ao informar-me dos problemas investigados pelos outros, poder ajuizar das descobertas já feitas e conjecturar as que ainda há por fazer.
A leitura alimenta a inteligĂŞncia e retempera-a das fadigas do estudo, sem, contudo, pĂ´r de lado o estudo. NĂŁo deveÂmos limitar-nos nem sĂł Ă escrita, nem sĂł Ă leitura: uma diminui-nos as forças, esgota-nos (estou-me referindo ao trabalho da escrita), a outra amolece-nos e embota-nos a energia. Devemos alternar ambas as actividades, equilibráÂ-las, para que a pena venha a dar forma Ă s ideias coligidas das leituras. Como soe dizer-se, devemos imitar as abelhas que deambulam pelas flores, escolhendo as mais apropriadas ao fabrico do mel e depois trabalham o material recolhido, distribuem-no pelos favos e, nas palavras do nosso Vergilio, o lĂquido mel acumulam, e fazem inchar os alvĂ©olos de doce nĂ©ctar.
(…) NĂłs devemos imitar as abelhas, discriÂminar os elementos colhidos nas diversas leituras (pois a memĂłria conserva-os melhor assim discriminados), e depois, aplicando-lhes toda a atenção, todas as faculdades da nossa inteligĂŞncia, transformar num produto de sabor individual todos os vários sucos coligidos de modo a que,