A Causa da Vontade
A nossa vida nĂŁo passaria de uma sĂ©rie de caprichos, se a nossa vontade se determinasse por si mesma e sem motivos. NĂŁo temos vontade que nĂŁo seja produzida por alguma reflexĂŁo ou por alguma paixĂŁo. Quando levanto a mĂŁo, Ă© para fazer uma experiĂȘncia com a minha liberdade ou por alguma outra razĂŁo. Quando me propĂ”em um jogo de escolha entre par ou Ămpar, durante o tempo em que as ideias de um e de outro se sucedem no meu espĂrito com rapidez, mescladas de esperança e temor, se escolho par, Ă© porque a necessidade de fazer uma escolha se apresenta ao meu pensamento no momento em que par estĂĄ aĂ presente. Proponha-se o exemplo que se quiser, demonstrarei a qualquer homem de boa-fĂ© que nĂŁo temos nenhuma vontade que nĂŁo seja precedida por algum sentimento ou por algum arrazoado que a faz nascer. Ă verdade que a vontade tem tambĂ©m o poder de excitar as nossas ideias; mas Ă© necessĂĄrio que ela prĂłpria seja antes determinada por alguma causa.
A vontade nĂŁo Ă© nunca o primeiro princĂpio das nossas acçÔes, ela Ă© o seu Ășltimo mĂłbil; Ă© o ponteiro que marca as horas num relĂłgio e que o leva a dar as pancadas sonoras.
Textos sobre Querer de MarquĂȘs de Vauvenargues
2 resultadosNada Vence as PaixÔes Profundas de Cada Um
As paixĂ”es opĂ”em-se Ă s paixĂ”es, e podem servir de contrapeso umas Ă s outras; mas a paixĂŁo dominante nĂŁo se pode conduzir senĂŁo pelo seu prĂłprio interesse, real ou imaginĂĄrio, porque ela reina despoticamente sobre a vontade, sem a qual nada se pode. Contemplo humanamente as coisas, e acrescento nesÂse espĂrito: nem todo o alimento Ă© prĂłprio para todos os corÂpos; nem todos os objetos sĂŁo suficientes para tocar deterÂminadas almas. Quem acredita serem os homens ĂĄrbitros soberanos dos seus sentimentos nĂŁo conhece a natureza; consiga-se que um surdo se divirta com os sons encantadoÂres de Mureti, peça-se a uma jogadora, que estĂĄ a jogar uma grande partida, que tenha a complacĂȘncia e a sabedoÂria de se enfadar durante a mesma, nenhuma arte pode fazĂȘ-lo.
Os sĂĄbios enganam-se quando oferecem a paz Ă s paixĂ”es: as paixĂ”es sĂŁo inimigas dela. Eles elogiam a moÂderação para aqueles que nasceram para a acção e para uma vida agitada; que importa a um homem doente a delicadeza de um festim que lhe repugna? NĂłs nĂŁo conhecemos os defeitos de nossa alma; mas ainda que pudĂ©ssemos conhecĂȘ-los, raramente haverĂaÂmos de os querer vencer.
As nossas paixĂ”es nĂŁo sĂŁo distintas de nĂłs mesmos; alÂgumas delas sĂŁo todo o fundamento e toda a substĂąncia da nossa alma.