É por ter EspĂrito que me Aborreço
É preciso esconjurar, da forma que nos for possĂvel, este diabo de vida que nĂŁo sei porque Ă© que nos foi dada e que se torna tĂŁo facilmente amarga se nĂŁo opusermos ao tĂ©dio e aos aborrecimentos uma vontade de ferro. É preciso, numa palavra, agitar este corpo e este espĂrito que se delapidam um ao outro na estagnação e numa indolĂŞncia que se confunde com um torpor. É preciso passar, necessariamente, do descanso ao trabalho – e reciprocamente: sĂł assim estes parecerĂŁo, ao mesmo tempo, agradáveis e salutares. Um desgraçado que trabalhe sem cessar, sob o peso de tarefas inadiáveis, deve ser, sem dĂşvida, extremamente infeliz, mas um indivĂduo que nĂŁo faça mais do que divertir-se nĂŁo encontrará nas suas distracções nem prazer nem tranquilidade; sente que luta contra o tĂ©dio e que este o prende pelos cabelos – como se fosse um fantasma que se colocasse sempre por detrás de cada distracção e espreitasse por cima do nosso ombro.
NĂŁo julgue, cara amiga, que eu sĂł porque trabalho regularmente estou isento das investidas deste terrĂvel inimigo; penso que, quando se tem uma certa disposição de espĂrito, Ă© preciso termos uma imensa energia de forma a nĂŁo nos deixarmos absorver e conseguir escapar,
Textos sobre Quotidiano de Eugène Delacroix
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