JuĂzes Imparciais
Se quisermos ser juĂzes imparciais em qualquer circunstância, devemos, antes de mais, ter em conta que ninguĂ©m está livre de culpa; o que está na origem da nossa indignação Ă© a ideia de que: «Eu nĂŁo errei» e «Eu nĂŁo fiz nada». Pelo contrário, tu recusas admitir os teus erros! Indignamo-nos quando somos castigados ou repreendidos, cometendo, simultaneamente, o erro de acrescentar aos crimes cometidos, a arrogância e a obstinação. Quem poderá dizer que nunca infringiu a lei? E, se assim for, Ă© bem estreita inocĂŞncia ser bom perante a lei! QuĂŁo mais vasta Ă© a regra do dever do que a regra do direito! Quantas obrigações impõem a piedade, a humanidade, a bondade, a justiça e a lealdade, que nĂŁo estĂŁo escritas em nenhuma tábua de leis!
Mas nós não podemos satisfazer-nos com aquela noção de inocência tão limitada: há erros que cometemos, outros que pensamos cometer, outros que desejamos cometer, outros que favorecemos; por vezes, somos inocentes por não termos conseguido cometê-los. Se tivermos isto em conta, somos mais justos para com os delinquentes, e mais persuasivos nas admoestações; em todo o caso, não nos iremos contra os homens bons (de facto, contra quem não nos sentiremos irados,
Textos sobre Regras de SĂ©neca
2 resultadosRegras de Conduta para Viver sem Sobressaltos
Vou indicar-te quais as regras de conduta a seguir para viveres sem sobressaltos. (…) Passa em revista quais as maneiras que podem incitar um homem a fazer o mal a outro homem: encontrarás a esperança, a inveja, o Ăłdio, o medo, o desprezo. De todas elas a mais inofenÂsiva Ă© o desprezo, tanto que muitas pessoas se tĂŞm sujeitado a ele como forma de passarem despercebidas. Quem despreza o outro calca-o aos pĂ©s, Ă© evidente, mas passa adiante; ninguĂ©m se afadiga teimosamente a fazer mal a alguĂ©m que despreza. É como na guerra: ninguĂ©m liga ao soldado caĂdo, combate-se, sim, quem se ergue a fazer frente.
Quanto Ă s esperanças dos desonestos, bastar-te-á, para evitá-las, nada possuĂres que possa suscitar a pĂ©rfida cobiça dos outros, nada teres, em suma, que atraia as atenções, porquanto qualquer objecto, ainda que pouco valioso, suscita desejos se for pouco usual, se for uma raridade. Para escapares Ă inveja deverás nĂŁo dar nas vistas, nĂŁo gabares as tuas propriedades, saberes gozar discretamente aquilo que tens. Quanto ao Ăłdio, ou derivará de alguma ofensa que tenhas feito (e, neste caso, bastar-te-á nĂŁo lesares ninguĂ©m para o evitares), ou será puramente gratuito, e entĂŁo será o senso comum quem te poderá proteger.