Textos sobre RenĂșncia de Fernando Pessoa

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Textos de renĂșncia de Fernando Pessoa. Leia este e outros textos de Fernando Pessoa em Poetris.

O Amor pede Identidade com Diferença

O amor pede identidade com diferença, o que Ă© impossĂ­vel jĂĄ na lĂłgica, quanto mais no mundo. O amor quer possuir, quer tornar seu o que tem de ficar fora para ele saber que se torna seu e nĂŁo Ă©. Amar Ă© entregar-se. Quanto maior a entrega, maior o amor. Mas a entrega total entrega tambĂ©m a consciĂȘncia do outro. O amor maior Ă© por isso a morte, ou o esquecimento, ou a renĂșncia – os amores todos que sĂŁo os absurdiandos do amor.
(…) O amor quer a posse, mas nĂŁo sabe o que Ă© a posse. Se eu nĂŁo sou meu, como serei teu, ou tu minha? Se nĂŁo possuo o meu prĂłprio ser, como possuirei um ser alheio? Se sou jĂĄ diferente daquele de quem sou idĂȘntico, como serei idĂȘntico daquele de quem sou diferente? O amor Ă© um misticismo que quer praticar-se, uma impossibilidade que sĂł Ă© sonhada como devendo ser realizada.

Hoje Tomei a DecisĂŁo de Ser Eu

Hoje, ao tomar de vez a decisĂŁo de ser Eu, de viver Ă  altura do meu mister, e, por isso, de desprezar a ideia do reclame, e plebeia sociabilizacĂŁo de mim, do Interseccionismo, reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressĂ”es pelos outros, na posse plena do meu GĂ©nio e na divina consciĂȘncia da minha MissĂŁo. Hoje sĂł me quero tal qual meu carĂĄcter nato quer que eu seja; e meu GĂ©nio, com ele nascido, me impĂ”e que eu nĂŁo deixe de ser.
Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou.
Nada de desafios Ă  plebe, nada de girĂąndolas para o riso ou a raiva dos inferiores. A superioridade nĂŁo se mascara de palhaço; Ă© de renĂșncia e de silĂȘncio que se veste.
O Ășltimo rasto de influĂȘncia dos outros no meu carĂĄcter cessou com isto. Reconheci — ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e infantil de « lançar o Interseccionismo» — a tranquila posse de mim.
Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez. Nasci.