Escuta, Amor
Quando damos as mãos, somos um barco feito de oceano, a agitar-se sobre as ondas, mas ancorado ao oceano pelo próprio oceano. Pode estar toda a espécie de tempo, o céu pode estar limpo, verão e vozes de crianças, o céu pode segurar nuvens e chumbo, nevoeiro ou madrugada, pode ser de noite, mas, sempre que damos as mãos, transformamo-nos na mesma matéria do mundo. Se preferires uma imagem da terra, somos årvores velhas, os ramos a crescerem muito lentamente, a madeira viva, a seiva. Para as årvores, a terra faz todo o sentido. De certeza que as årvores acreditam que são feitas de terra.
Por isto e por mais do que isto, tu estĂĄs aĂ e eu, aqui, tambĂ©m estou aĂ. Existimos no mesmo sĂtio sem esforço. Aquilo que somos mistura-se. Os nossos corpos sĂł podem ser vistos pelos nossos olhos. Os outros olham para os nossos corpos com a mesma falta de verdade com que os espelhos nos reflectem. Tu Ă©s aquilo que sei sobre a ternura. Tu Ă©s tudo aquilo que sei. Mesmo quando nĂŁo estavas lĂĄ, mesmo quando eu nĂŁo estava lĂĄ, aprendĂamos o suficiente para o instante em que nos encontrĂĄmos.
Aquilo que existe dentro de mim e dentro de ti,
Textos sobre Restos de JosĂ© LuĂs Peixoto
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