A Profundidade do Ser
E de vez em quando descer à gravidade de mim, à profundidade do meu ser. E verificar então que tudo se transfigura. Que é que significa este garatujar quase gratuito, este riso superficial, todo este modo de ser menor? A melancolia profunda, tão de dentro que ela se iguala à alegria sem medida. Espaço rarefeito de nós, é o lugar da grandeza do homem, do que é nele fundamental, o lugar do aparecimento de Deus. Mas Deus não me aparece – aparece apenas a inundação que me vem da infinita beatitude, da grandeza e do assombro. Nós vivemos habitualmente à superfície de nós, ligados ao que é da vida imediata, enredados nas mil futilidades com que se nos enchem os dias. Mas de vez em quando, o abismo da natureza, um livro ou uma música que dos abismos vem, abre-nos aos pés um precipício hiante e tudo se dilui num sentir que está antes e abaixo e mais longe que esse tudo. Há uma harmonia que em nós espera por um som, um acorde, uma palavra, para imediatamente se organizar e envolver-nos. E aí somos verdade para a infinidade dos séculos.
Textos sobre Riso de Vergílio Ferreira
2 resultados Textos de riso de Vergílio Ferreira. Leia este e outros textos de Vergílio Ferreira em Poetris.
A Ilusão da Cultura Presente
Como é que tens a ilusão de que a tua Cultura é que é? De que a Arte que realizaste, e a Filosofia que pensas, e a História que concebes, e a Ciência que revelaste ou propuseste, e a Política que queres impor, e a Moral que vais pregando, e as relações familiares que estabeleceste, e tudo o mais em que foste homem, são o limite de uma procura, e te sentas nele, e ris dos que te precederam com o teu riso canino da tua boca de esguelha?
Dentro em pouco alguém te retirará de dentro desse riso para ficar lá só o riso e se meter nele depois. E virá um dia a altura de esse alguém sair também desse riso para outro se instalar nele por sua vez. Até que o último riso a ficar seja enfim o da caveira.