O EspĂrito Desfaz a Ordem das Coisas
O espĂrito aprendeu que a beleza nos faz bons, maus, estĂşpidos ou sedutores. Disseca uma ovelha e um penitente e encontra em ambos humildade e paciĂŞncia. Analisa uma substância e descobre que, tomada em grandes quantidades, pode ser um veneno, e em pequenas doses, um excitante. Sabe que a mucosa dos lábios tem afinidades com a do intestino, mas tambĂ©m sabe que a humildade desses lábios tem afinidades com a humildade de tudo o que Ă© sagrado. O espĂrito desfaz a ordem das coisas, dissolve-as e volta a recompĂ´-las de forma diferente. O bem e o mal, o que está em cima e o que está em baixo nĂŁo sĂŁo para ele noções de um relativismo cĂ©ptico, mas termos de uma função, valores que dependem do contexto em que se encontram. Os sĂ©culos ensinaram-lhe que os vĂcios se podem transformar em virtudes e as virtudes em vĂcios, e conclui que, no essencial, sĂł por inĂ©pcia se nĂŁo consegue fazer de um criminoso um homem Ăştil no tempo de uma vida. NĂŁo reconhece nada como lĂcito ou ilĂcito, porque tudo pode ter uma qualidade graças Ă qual um dia participará de um novo e grande sistema. Odeia secretamente como a morte tudo aquilo que se apresenta como se fosse definitivo,
Textos sobre RuĂna de Robert Musil
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