Textos sobre Sábios

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Textos de sábios escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Dignidade Perdida

A meditação perdeu toda a sua dignidade exterior; ridicularizou-se o cerimonial e a atitude solene daquele que reflecte; já não se poderia continuar a suportar um sages da velha escola. Pensamos demasiado depressa, e pelo caminho, em plena marcha, no meio de negócios de toda a espécie, mesmo quando se trate das coisas mais graves; temos apenas necessidade de pouca preparação, e até de pouco silêncio: tudo se passa como se tivéssemos na cabeça uma máquina que girasse incessantemente e que prosseguisse o seu trabalho, mesmo nas piores circunstâncias. Outrora, quando alguém se queria pôr a pensar – era uma coisa excepcional! – era coisa que se notava imediatamente ; notava-se que queria tornar-se mais sábio e que se preparava para uma ideia: o seu rosto ganhava uma expressão como em oração; o homem detinha-se na sua marcha; ficava até imóvel durante horas na rua, apoiado numa perna ou nas duas, quando a ideia lhe «surgia». A coisa «valia» então «esse trabalho».

O Prazer e a Dor

O prazer e a dor não conhecem a duração. A sua natureza é dissiparem-se rapidamente e, por conseguinte, só existirem sob a condição de ser intermitente. Um prazer prolongado cessa logo de ser um prazer e uma dor continua logo se atenua. A sua diminuição pode mesmo, por confronto, tornar-se um prazer. O prazer só é, pois, um prazer sob a condição de ser descontínuo. O único prazer um pouco durável é o prazer não realizado, ou desejo.
O prazer somente é avaliável pela sua comparação com a dor. Falar de prazer eterno é um contra-senso, como justamente observou Platão. Ignorando a dor, os deuses não podem, segundo Platão, ter prazer. A descontinuidade do prazer e da dor representa a conseqüência dessa lei fisiológica: “A mudança é a condição da sensação”. Não percebemos os estados contínuos, porém as diferenças entre estados simultâneos ou sucessivos. O tique-taque do relógio mais ruidoso acaba, no fim de algum tempo, por não ser mais ouvido, e o moleiro não será despertado pelo ruído das rodas do seu moinho, mas pelo seu parar.

É em virtude dessa descontinuidade necessária que o prazer prolongado cessa logo de ser um prazer, porém uma coisa neutra,

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O Belo Retrato do Sábio

Voltemos à feliz espécie dos loucos. Passada a vida alegremente, sem medo ou pressentimento da morte, emigram directamente para os Campo Elísios e vão deleitar com as suas facécias as almas ociosas e pias. Comparai agora ao destino do louco o de um sábio à vossa escolha. Citai-me um modelo de sabedoria que tenha gasto a sua infância e a juventude no estudo das ciências e que tenha perdido o mais belo tempo da sua vida em vigílias, cuidados e trabalhos sem fim e que se tenha privado, para o resto da sua vida, de todos os prazeres. Vereis que foi sempre pobre, miserável, triste, tétrico, severo e duro para consigo mesmo, insuportável e desagradável para com os outros, pálido, magro, servil, envelhecido antes do tempo, calvo antes da velhice, votado a uma morte prematura. Que importa, aliás, que morra, se nunca chegou a viver! Tal é o belo retrato deste sábio.

Um Estado Desacostumado

Não é impossível assistir a um desvio anormal no funcionamento latente ou visível das leis da natureza. Efectivamente, se qualquer um se der ao engenhoso trabalho de interrogar as diversas fases da sua existência (sem esquecer qualquer delas, porque talvez fosse essa a que estava destinada a fornecer a prova do que afirmo), não será sem um certo espanto, que noutras circunstâncias seria cómico, que se recordará de que em determinado dia, para começar a falar de coisas objectivas, foi testemunha de qualquer fenómeno que parecia ultrapassar, e positivamente ultrapassava, as noções conhecidas fornecidas pela observação e pela experiência, como, por exemplo, as chuvas de sapos, cujo mágico espectáculo não foi a princípio compreendido pelos sábios. E de que, noutro dia, para falar em segundo e último lugar de coisas subjectivas, a sua alma apresentou ao olhar investigador da psicologia, não vou ao ponto de dizer uma aberração da razão (que, no entanto, não deixaria de ser curiosa; pelo contrário, ainda o seria mais), mas, pelo menos, para não me fazer rogado perante certas pessoas frias, que nunca perdoariam as locubrações flagrantes do meu exagero, um estado desacostumado, muitas vezes gravíssimo, que significa que o limite concedido pelo bom-senso à imaginação é,

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O Prazer em Perspectiva: a Esperança

A esperança é filha do desejo, mas não é o desejo. Constitui uma aptidão mental, que nos fez crer na realização de um desejo. Podemos desejar uma coisa sem que a esperemos. Toda gente deseja a fortuna, muito poucos a esperam. Os sábios desejam descobrir a causa primitiva dos fenômenos; eles não têm nenhuma esperança de consegui-lo. O desejo aproxima-se algumas vezes da esperança, a ponto de confundir-se com ela. Na roleta, eu desejo e espero ganhar.
A esperança é uma forma de prazer em expectativa que, na sua atual fase de espera, constitui uma satisfação freqüentemente maior do que o contentamento produzido pela sua realização. A razão é evidente. O prazer realizado limita-se em quantidade e em duração, ao passo que nada limita a grandeza do sonho criado pela esperança. A força e o encanto da esperança consistem em conter todas as possibilidades de prazer. Ela constitui uma espécie de vara mágica que transforma tudo. Os reformadores nunca fizeram mais do que substituir uma esperança por outra.

O Talento na Juventude e na Velhice

Nada menos exacto do que supor que o talento constitui privilégio da mocidade. Não. Nem da mocidade, nem da velhice. Não se é talentoso por se ser moço, nem genial por se ser velho. A certidão de idade não confere superioridade de espírito a ninguém. Nunca compreendi a hostilidade tradicional entre velhos e moços (que aliás enche a história das literaturas); e não percebo a razão por que os homens se lançam tantas vezes recíprocamente em rosto, como um agravo, a sua velhice ou a sua juventude.
Ser idoso não quer dizer que se seja necessáriamente intolerante e retrógado; e engana-se quem supuser que a mocidade, por si só, constitui garantia de progresso ou de renovação mental. As grandes descobertas que ilustram a história da ciência e contribuiram para o progresso humano são, em geral, obra dos velhos sábios; e a mocidade literária, negando embora sistemáticamente o passado, é nele que se inspira, até que o escritor adquire (quando adquire) personalidade própria.
(…) A mocidade, em geral, não cria; utiliza, transformando-o, o legado que recebeu. Juventude e velhice não se opõem; completam-se na harmonia universal dos seres e das coisas. A vida não é só o entusiasmo dos moços;

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O Carácter é Inalterável

O que é que se pode perguntar das pessoas com palavras? O que vale a resposta que uma pessoa dá com palavras e não com a realidade da sua vida?… Vale pouco (…) São poucas as pessoas cujas palavras correspondem por completo à realidade das suas vidas. Talvez seja esse o fenómeno mais raro da vida. Na altura, ainda não o sabia. Agora não me refiro aos mentirosos, aos safados. Só penso que conhecer a verdade, adquirir experiências, de nada serve, porque ninguém consegue mudar o seu carácter. Talvez não se possa fazer mais nada na vida que adaptar à realidade com inteligência e cautela essa outra realidade inalterável, o carácter pessoal. É a única coisa que podemos fazer. E mesmo assim, não seríamos mais sábios, nem mais protegidos…

O Paradoxo da Leitura

O sábio lê livros, mas lê também a vida. O universo é um grande livro e a vida é uma grande escola.
(…) Quanto mais leio mais ignorante fico. A escolha que hoje se depara a qualquer homem educado é entre a inocência que não lê e a ignorância que lê muito.
(…) É possível sustentar com alguma aparência de exactidão que a imprensa de hoje mata a leitura e a leitura mata o pensamento.

O Saber Ajuda em Todas as Actividades

O mero filósofo é geralmente uma personalidade pouco admis­sível no mundo, pois supõe-se que ele em nada contribui para o be­nefício ou para o prazer da sociedade, porquanto vive distante de toda comunicação com os homens e envolto em princípios e noções igualmente distantes de sua compreensão. Por outro lado, o mero ig­norante é ainda mais desprezado, pois não há sinal mais seguro de um espírito grosseiro, numa época e uma nação em que as ciências florescem, do que permanecer inteiramente destituído de toda espécie de gosto por estes nobres entretenimentos. Supõe-se que o carácter mais perfeito se encontra entre estes dois extremos: conserva igual capacidade e gosto para os livros, para a sociedade e para os negócios; mantém na conversação discernimento e delicadeza que nascem da cultura literária; nos negócios, a probidade e a exatidão que resultam naturalmente de uma filosofia conveniente. Para difundir e cultivar um carácter tão aperfeiçoado, nada pode ser mais útil do que as com­posições de estilo e modalidade fáceis, que não se afastam em demasia da vida, que não requerem, para ser compreendidas, profunda apli­cação ou retraimento e que devolvem o estudante para o meio de homens plenos de nobres sentimentos e de sábios preceitos,

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A História da Humanidade em Três Palavras

Felipe lembrou-se da história do Rei do Oriente que, desejando conhecer a história da humanidade, recebeu de um sábio quinhentos volumes; ocupado com negócios de Estado, pediu-lhe que a condensasse. Ao cabo de vinte anos, o sábio voltou e a sua história ocupava agora apenas cinquenta volumes; mas o rei, já velho demais para ler tantos livros volumosos, pediu-lhe que a fosse abreviar mais uma vez. Passaram-se de novo vinte anos, e o sábio, velho e encanecido, trouxe um único volume com os conhecimentos que o rei procurara; este, porém, estava deitado no seu leito de morte, nem tinha mais tempo de ler sequer aquilo. Aí o sábio deu-lhe a história da humanidade numa única linha: “Nasceram, sofreram, morreram”.

A Morte Não É Nada Para Nós

Habitua-te a pensar que a morte não é nada para nós, pois que o bem e o mal só existem na sensação. Donde se segue que um conhecimento exacto do facto de a morte não ser nada para nós permite-nos usufruir esta vida mortal, evitando que lhe atribuamos uma idéia de duração eterna e poupando-nos o pesar da imortalidade. Pois nada há de temível na vida para quem compreendeu nada haver de temível no facto de não viver. É pois, tolo quem afirma temer a morte, não porque sua vinda seja temível, mas porque é temível esperá-la.
Tolice afligir-se com a espera da morte, pois trata-se de algo que, uma vez vindo, não causa mal. Assim, o mais espantoso de todos os males, a morte, não é nada para nós, pois enquanto vivemos, ela não existe, e quando chega, não existimos mais.
Não há morte, então, nem para os vivos nem para os mortos, porquanto para uns não existe, e os outros não existem mais. Mas o vulgo, ou a teme como o pior dos males, ou a deseja como termo para os males da vida. O sábio não teme a morte, a vida não lhe é nenhum fardo,

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O Excesso de Leitura

Acredito que entre os maiores espíritos alguma vez existentes, muitos não leram metade sequer do que lê qualquer sábio mediano dos nossos dias, e que sabiam infinitamente menos do que ele. Também acredito que mais do que um, dentre os nossos sábios mais vulgares, talvez pudesse ter sido um grande homem se não tivesse lido tudo.
O excesso de leitura comporta uma consequência nociva: gasta o sentido das palavras; os pensamentos só se exprimem pouco mais ou menos. A expressão só assenta na ideia como uma roupa folgada.

Virtude Viciosa

Como se tivéssemos o tacto infectado, corrompemos com a nossa manipulação as coisas que por si mesmas são belas e boas. Podemos aprender a virtude de forma que ela se tornará viciosa, se a abraçarmos com um desejo demasiadamente ávido e violento. Os que dizem que na virtude nunca há excesso, porque já não há virtude se o excesso ali está, jogam com as palavras: O sábio deve receber o nome de insensato, o justo o de injusto se eles forem longe demais, mesmo nos seus esforços para atingir a virtude (Horácio). É uma consideração subtil da filosofia. Pode-se tanto amar demais a virtude como se comportar com excesso numa acção justa. A esse ponto de vista se ajusta a voz divina: Não sejais mais sábios do que é preciso, mas sede sobriamente sábios (São Paulo).

Seguimos a Multidão

Nos nossos contactos quotidianos seguimos a multidão, deixamo-nos levar por esperanças e temores subalternos, tornamo-nos vítimas das nossas próprias técnicas e implementos, e desusamos o acesso que temos ao oráculo divino. É apenas enquanto a alma dorme que nos servimos dos préstimos de tantas maquinarias e muletas engenhosas. De que servem os telégrafos? Qual a utilidade dos jornais? O homem sábio não aguarda os correios nem precisa ler telegramas para descobrir como se sentem os homens no Kansas ou na Califórnia durante uma crise social. Ele ausculta o seu próprio coração. Se eles são feitos como ele é, se respiram o mesmo ar e comem o mesmo trigo, se têm mulheres e filhos, ele sabe que a sua alegria e ressentimento atingem o mesmo ponto que o seu. A alma íntegra está em perpétua comunicação telegráfica com a fonte dos acontecimentos, dispõe de informação antecipada, qual despacho particular, que a exime e alivia do terror que oprime o restante da comunidade.

A Sabedoria da Velhice

Nós, os novos, seremos velhos um dia. Essa é mesmo a melhor saída para a nossa vida, sinal de que atingimos uma sabedoria maior, prémio por termos alcançado o topo da hierarquia da existência. Não é o tempo que nos faz auferir esse estatuto, mas o tempo dá-nos mais tempo para fazermos alguma coisa com ele e assim aprender para saber mais.
Ninguém sabe mais do que um velho. Ao lado do seu avô, um doutorado é um ignorante e, se afirmar saber mais do que aquelas duas gerações de diferença, é um ignorante imbecil. É o que não falta entre nós, os novos. Dá-se mais valor ao que se aprende nas faculdades do que ao que se aprende na vida, dá-se mais valor à teoria do que à prática. Coitados de nós. E depois não nos lembramos da idade, achamos que nos passa ao lado e por isso não reconhecemos aos velhos o estatuto de sábios e o respeito que lhes é devido. Somos imbecis. A maior parte de nós é tonta. Só isso justifica o abandono. Um velho é um mapa de conhecimento, tem dentro dele muitas estradas principais, muitas vias secundárias e muitos atalhos, muitos becos sem saída,

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O Caminho da Felicidade

Um sábio perguntava a um louco qual era o caminho da felicidade. O louco respondeu-lhe imediatamente, como alguém a quem se pergunta o caminho da cidade vizinha: «Admira-te a ti mesmo e vive na rua». «

O Sábio

Quem faz depender de si mesmo, se não tudo, quase tudo o que contribui para a sua felicidade, e não se prende a outra pessoa, nem se modifica de acordo com o bom ou o mau êxito da sua conduta, está, de facto, preparado para a vida; é sábio, na verdadeira acepção do termo, corajoso e temperante.

Ignorância Sábia

Aconteceu aos verdadeiros sábios o que se verifica com as espigas de trigo, que se erguem orgulhosamente enquanto vazias e, quando se enchem e amadurece o grão, se inclinam e dobram humildemente. Assim esses homens, depois de tudo terem experimentado, sondado e nada haverem encontrado nesse amontoado considerável de coisas tão diversas, renunciaram à sua presunção e reconheceram a sua insignificância. (…) Quando perguntaram ao homem mais sábio que já existiu o que ele sabia, ele respondeu que a única coisa que sabia era que nada sabia. A sua resposta confirma o que se diz, ou seja, que a mais vasta parcela do que sabemos é menor que a mais diminuta parcela do que ignoramos. Em outras palavras, aquilo que pensamos saber é parte — e parte ínfima — da nossa ignorância.

Se um inteligente ouve uma palavra sábia, aprecia-a e acrescenta-lhe algo de seu

Se um inteligente ouve uma palavra sábia, aprecia-a e acrescenta-lhe algo de seu.

Quando um sábio discute com um néscio, quer se zangue quer se ria, jamais terá descanso

Quando um sábio discute com um néscio, quer se zangue quer se ria, jamais terá descanso.