Textos sobre Sábios

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Textos de sábios escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

O Paradoxo da Sabedoria

São muito raros no género humano os homens verdadeiramente sábios; o concurso de condições e circunstâncias especiais necessário para que os haja, ocorre com tanta dificuldade que não deve admirar a sua raridade: demais a sua aparição pouco ou nada aproveita aos outros homens que os desprezam, perseguem ou motejam, incapazes de compreendê-los, e os obrigam finalmente ao silêncio, retiro e reclusão.
(…) Não esperem os homens por, maior que seja o progresso da sua inteligência, chegar a conhecer as verdades capitais e primitivas sobre a essência e natureza das coisas: mudarão de erros, fábulas, hipóteses e teorias, mas nunca poderão alcançar conhecimentos que hajam de mudar a natureza humana, e fazer os homens diversos do que farão e do que são.
O mundo varia aos olhos e nas opiniões dos homens, conforme as idades e condições da vida.

É mister o máximo cuidado no emprego das palavras. Por causa de uma palavra, poderia um homem ser julgado sábio, e por causa de uma palavra, poderia ser ele julgado um néscio.

Se gostares de ouvir, aprenderás; se deres ouvido, serás sábio

Se gostares de ouvir, aprenderás; se deres ouvido, serás sábio.

Muito Tempo Há que a Mentira se Tem Posto em Pés de Verdade

Muito tempo há que a mentira se tem posto em pés de verdade, ficando a verdade sem pés e com dobradas forças a mentira; e é força que, sustentando-se em pés alheios, ande no mundo a mentira muito de cavalo; e se houve filósofo que com uma tocha numa mão buscava na luz do meio-dia um sábio, hoje, por mais que se multipliquem luzes às do Sol, não se descobrirá um afecto verdadeiro. Buscava-se então a ciência com uma vela, hoje pode-se buscar a verdade com a candeia na mão, que apenas se acha nos últimos paroxismos da vida.

É mister distinguir entre a acção obrigada, a acção ilícita, e a inacção. Sábio é quem vê a inacção na acção e a acção na inacção, e em harmonia permanece enquanto executa toda a acção.

Impressões mal Fundamentadas

Sócrates- Quando a cera que está na alma de alguém é não apenas densa, mas abundante e lisa, com a consistência adequada, o que vem através das percepções grava-se neste «coração» da alma. Como Homero lhe chama de modo enigmático, referindo-se à semelhança com a cera. Nesse momento, os sinais tornam-se puros nestas pessoas e têm suficiente densidade para chegarem a ser duradouros. Quantos são desse tipo têm, em primeiro lugar, facilidade em aprender, em segundo, boa memória, e, em terceiro, não desviam os sinais das suas percepções, mas têm opiniões verdadeiras. Com efeito, dado que os sinais são claros e bem espaçados, distribuem-nos rapidamente em cada uma das impressões, às quais sem dúvida se chama coisas que são. E estas pessoas são chamadas sábias. Ou não te parece?
Teeteto- Sem dúvida. A explicação é maravilhosamente convincente.
Sócrates- Ora bem, vejamos o que sucede quando o coração de uma pessoa é hirsuto – coisa que o poeta elogiou, na sua enorme sabedoria – ou, quando a cera está suja e é impura, ou quando é extremamente líquida ou dura: aqueles cuja cera é líquida têm facilidade para aprender, mas tornam-se esquecidos, enquanto, com aqueles cuja cera é dura,

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Os Homens são como as Crianças

A atitude que nós temos para com as crianças é a atitude que o sábio tem para com todos os homens, que são pueris mesmo após a idade madura e os cabelos brancos. O que terão progredido estes homens, cujos males da sua alma apenas se tornaram em maiores males, que em forma e grandeza corporais tanto diferem das crianças, mas que em tudo o resto não são menos ligeiros e inconstantes, correndo atrás dos desejos sem reflectirem, agitados e que quando se aquietam é por medo, não por engenho seu?
Diria que aquilo que distingue as crianças dos homens é que a avidez das crianças é por dados, nozes e pequenas moedas de ouro, enquanto que a dos homens é pelo ouro e pela prata das cidades; uns imaginam magistrados entre eles mesmos e imitam a toga, o facho e o tribunal, os outros jogam os mesmos jogos, mas a sério, no Campo de Marte, no Fórum e na Cúria; uns, amontoando areia à beira-mar, constroem simulacros de casas, os outros, como quem executa uma grande obra, trabalhando a pedra na construção de paredes e tectos, fazem aquilo que os devia abrigar um verdadeiro perigo. Por isso, entre crianças e homens-feitos o erro é igual,

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O sábio não dá crédito à sua sabedoria, mas o crédito nunca o abandona

O sábio não dá crédito à sua sabedoria, mas o crédito nunca o abandona.

O Facto e o Direito

O direito é a justiça e a verdade. O característico do direito é conservar-se perpetuamente puro e belo. O facto, ainda o mais necessário, segundo as aparências, ainda o melhor aceite pelos contemporâneos, se só existe como facto, contendo pouco ou nada de direito, é infalivelmente destinado a tornar-se, com o andar dos tempos, disforme, imundo, talvez até monstruoso. Se alguém quiser verificar de um só jacto a que ponto de fealdade pode chegar o facto, visto à distância dos séculos, olhe para Maquiavel. Maquiavel não é um mau génio, nem um demónio, nem um escritor cobarde e miserável; é o facto puro. E não é só o facto italiano, é o facto europeu, é o facto do século XVI. Parece hediondo, e é-o, em presença da ideia moral do século XIX.
Esta luta do direito e do facto dura desde a origem das sociedades. Terminar o duelo, amalgamar a ideia pura com a realidade humana, fazer penetrar pacificamente o direito no facto e o facto no direito, eis o trabalho dos sábios.

Qual é o Seu Tipo de Sabedoria?

Há dois tipos de sabedoria: a inferior e a superior. A sabedoria inferior é medida por quanto uma pessoa sabe e, a superior, pela consciência que ela tem do que não sabe. Os verdadeiros sábios são os mais convictos da sua ignorância. Desconfiem das pessoas autossuficientes. A arrogância é um atentado contra a lucidez e a inteligência.

A sabedoria superior tolera, a inferior julga; a superior compreende, a inferior culpa; a superior perdoa, a inferior condena. A sabedoria inferior é cheia de diplomas, na superior ninguém se gradua, não há mestres nem doutores, todos são eternos aprendizes.

Detalhes Importantes da Governação

Um sábio evita dizer ou fazer o que não sabe. Se os nomes não condizem com as coisas, há confusão de linguagem e as tarefas não se executam. Se as tarefas não se executam, o bem-estar e a harmonia são negligenciados. Sendo estes negligenciados, os suplícios e demais castigos não são proporcionais às faltas, o povo não sabe mais o que fazer. Um princípe sábio dá às coisas os nomes adequados e cada coisa deve ser tratada segundo o significado do seu nome. Na escolha dos nomes deve-se estar muito atento.
(…) Suponhamos que um homem aprenda as trezentas odes de Chen King e que, em seguida, se fosse encarregado de uma parte da administração, mostrasse pouca habilidade; se fosse enviado em missão a países estrangeiros, mostrasse incapacidade para resolver por si mesmo; de que lhe teria servido toda a sua literatura?
(…) Se o próprio príncipe é virtuoso, o povo cumprirá os seus deveres sem que lhe ordene; se o próprio príncipe não é virtuoso, pouco importa que dê ordens; o povo não as seguirá.

Os Sentimentos não Evoluem

Sei que tenho conhecimentos que os antigos não possuíam. Somos melhores filósofos sob muitos aspectos; mas no que diz respeito aos sentimentos, confesso que não conheço nenhum povo antigo que nos seja inferior. É desse lado, creio, que se pode mesmo dizer que é difícil para os homens elevarem-se acima do instinto da natureza. Ela fez as nossas almas tão grandes quanto elas se podem tornar, e a elevação que elas encontram na reflexão é em geral tanto mais falsa quanto mais guindada. Tudo aquilo que só depende da alma não recebe nenhum acréscimo pelas luzes do espírito e, porque o gosto se prende a ela, vejo que em vão se aperfeiçoam os nossos conhecimentos: instrui-se o nosso juízo, não se eleva o nosso gosto.
Represente-se Pourceaugnac no Teatro da Comédia, ou outra farsa com alguma comicidade, ela não atrairá público menor do que Andrómaca: as gargalhadas da platéia encantada serão ouvidas até na rua. Apresentem-se pantominas suportáveis na Feira, elas deixarão deserto o Teatro de Comédia; vi os nossos almofadinhas e os nossos filósofos subirem nos bancos para verem espancar dois garotos. Não se perde um gesto de Arlequim, e Pierrot faz rir este século sábio que se pavaneia de tanta polidez.

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A Plenitude de Realização Humana está Fora da Sabedoria

O homem mais perfeitamente educado por um mestre foi Stuart Mill. Aos vinte anos de idade ele tinha aprendido com James Mill, seu pai, tudo quanto a ciência pode ensinar a um sábio e a um filósofo. E todavia Stuart Mill conta-nos na sua autobiografia que, ao perguntar um dia a si mesmo se seria feliz, uma vez realizadas nas instituições e nas ideias todas as reformas que ele projectava criar, a sua consciência lhe respondera: não. «Senti-me então desfalecer, – diz ele; todas as fundações sobre que se tinha arquitectado a minha vida se desmoronaram de repente.» Mais tarde ele sentiu a dor, sentiu depois o amor, o amor apaixonado, absorvente, enorme, dominando todo o seu ser, submetendo a força dissolvente da análise; e foi só então que ele se sentiu homem, revivendo para a natureza, forte da grande força que a natureza lhe comunicava, equilibrado para sempre no seu destino, cingido ao coração palpitante de uma mulher que ele amou – ele o sábio, o filósofo, o reformador frio e implacável – com o amor illimitado, entusiástico, cavalheiresco, que as velhas lendas líricas atribuem aos grandes amantes célebres.

O Nosso Desejo Aumenta com a Dificuldade

Não há argumento que não tenha um contrário, diz o mais sábio partido dos filósofos. Há pouco estava a remoer estas belas palavras que um antigo menciona sobre o menosprezo à vida: “O único bem que nos pode trazer prazer é aquele para cuja perda estamos preparados”. O sofrimento pela perda de uma coisa e pelo temor de perdê-la é o mesmo (Séneca); querendo estabelecer com isso que a fruição da vida não nos pode ser realmente agradável se estivermos a temer perdê-la. Entretanto se poderia dizer, pelo contrário, que seguramos e abraçamos esse bem tanto mais estreitamente e com mais afeição quanto menos seguro o vemos ser-nos e quanto mais tememos que nos seja tirado. Pois sentimos com clareza, assim como o fogo se atiça em presença do frio, que a nossa vontade também se aguça com a oposição: Se Dânae não estivesse estado presa numa torre de bronze, Júpiter nunca a teria feito mãe (Ovídio), e que não há nada naturalmente tão contrário ao nosso gosto do que a saciedade que vem da facilidade, e tampouco nada que o aguce tanto como a raridade e a dificuldade. Em todas as coisas o prazer aumenta com o perigo que nos deveria afastar delas (Séneca).

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Formar Conceito

Formar conceito, e mais do que mais importa. Por não pensarem perdem-se todos os néscios: nunca concebem nas coisas nem a metade; e, como não percebem o dano nem a conveniência, tampouco aplicam a diligência. Alguns fazem muito caso do que pouco importa, e pouco caso do que importa muito, ponderando sempre às avessas. Muitos, por serem faltos de senso, não o perdem. Coisas há que se deveriam observar com todo o empenho, e conservar na profundidade da mente. O sábio forma conceito de tudo, ainda que, discernindo, cave onde haja fundo e reparo, pensando às vezes que haja mais do que pensa; de tal sorte que a reflexão chega aonde não chegou a apreensão.

O Valor da Opinião dos Outros

Muitas vezes tenho cismado em como é possível que cada homem ame a si mesmo mais que ao resto dos homens e, não obstante, dê menos valor à sua opinião de si próprio que à opinião dos outros. Se, pois, um deus ou um mestre sábio se apresentasse a um homem e lhe pedisse que não pensasse nada e não intentasse nada sem o expressar tão logo o concebesse, esse homem não suportaria tal situação um único dia que fosse. Muito mais respeito temos por aquilo que os nossos vizinhos possam pensar de nós do que por aquilo que pensamos a nosso próprio respeito.