Tantos São os Gostos Quantos os Rostos
Ou tudo é bom, ou tudo é mau, segundo os votos. O que este segue aquele persegue. Insofrível néscio é quem quer regular todo o feito pelo seu conceito. As perfeições não dependem do agrado de um só. Tantos são os gostos quantos os rostos, e tão variados. Não há senão sem paixão, nem se há-de perder a confiança porque as coisas não agradam a uns, pois não faltarão outros que as apreciem. E que tampouco o aplauso destes lhe seja motivo de convencimento, pois outros o condenarão. A norma do verdadeiro contentamento consigo mesmo é a aprovação dos varões de reputação, e que têm direito de voto naquela ordem de coisas. Não se vive de uma só opinião, de um só uso, de um só seculo.
Textos sobre Segundos de Baltasar Gracián
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Achar a Chave para Cada Um
É a arte de mover vontades; mais consiste em destreza do que em resolução: saber por onde entrar em cada um. Não há vontade sem pendor especial, diferente segundo a variedade dos gostos. Todos são idólatras, uns da estima, outros do interesse, a maioria do deleite. A manha está em conhecer esses ídolos para motivar; conhecer o impulso eficaz de cada um é como ter a chave do querer alheio. Deve-se ir ao primeiro móbil, que nem sempre é o supremo; o mais das vezes é o ínfimo, porque no mundo são mais os desregrados que os subordinados. Primeiro há de se prevenir o génio, depois tocar-lhe o verbo, para atacar a afeição, que infalivelmente porá em mate o arbítrio.