O Retiro da Alma
HĂĄ quem procure lugares de retiro no campo, na praia, na montanha; e acontece-te tambĂ©m desejar estas coisas em grau subido. Mas tudo isto revela uma grande simplicidade de espĂrito, porque podemos, sempre que assim o quisermos, encontrar retiro em nĂłs mesmos. Em parte alguma se encontra lugar mais tranquilo, mais isento de arruĂdos, que na alma, sobretudo quando se tem dentro dela aqueles bens sobre que basta inclinar-se para que logo se recobre toda a liberdade de espĂrito, e por liberdade de espĂrito, outra coisa nĂŁo quero dizer que o estado de uma alma bem ordenada. Assegura-te constantemente um tal retiro e renova-te nele. Nele encontrarĂĄs essas mĂĄximas concisas e essenciais; uma vez encontradas dissolverĂŁo o tĂ©dio e logo te hĂŁo-de restituir curado de irritaçÔes ao ambiente a que regressas.
Textos sobre Sempre de Marco Aurélio
3 resultadosViver Sempre Perfeitamente Feliz
Viver sempre perfeitamente feliz. A nossa alma tem em si mesma esse poder de ficar indiferente perante as coisas indiferentes. FicarĂĄ indiferente se considerar cada uma delas analiticamente e em bloco, lembrando-se que nenhuma nos impĂ”e opiniĂŁo a seu respeito nem nos vem solicitar; os objectos estĂŁo aĂ imĂłveis e somos nĂłs que formamos os nossos juĂzos sobre eles e os entalhamos, por dizĂȘ-lo assim, em nĂłs mesmos; e estĂĄ em nosso poder nĂŁo os gravar e, se eles se insinuam nalgum cantinho da alma, apagĂĄ-los de repente.
Depois os cuidados que te pungem nĂŁo duram, bem depressa deixarĂĄ de viver. E por que tens um penoso sentimento de serem assim as coisas? Se sĂŁo conformes Ă natureza aceita-as alegremente e sejam-te propĂcias. Se vĂŁo ao arrepio da natureza, busca o que for conforme Ă tua natureza, e corre nessa direcção, fosse-te ela menos propĂcia; merece indulgĂȘncia quem procura o seu prĂłprio bem.
A Força do Presente
Fosse a tua vida trĂȘs mil anos e atĂ© mesmo dez mil, lembra-te sempre que ninguĂ©m perde outra vida que aquela que lhe tocou viver e que sĂł se vive aquela que se perde. Assim a mais longa e a mais curta vida se equivalem. O presente Ă© igual para todos, e o que se perde Ă©, por isso mesmo, igual, e o que se perde surge como a perda de um segundo. Com efeito, nĂŁo Ă© o passado ou o futuro que perdemos; como poderia alguĂ©m arrebatar-nos o que nĂŁo temos?
Por isso toma sentido, a toda a hora, nestas duas coisas: primeiramente, que tudo, desde toda a eternidade, apresenta aspecto idĂȘntico e passa pelos mesmos ciclos, e pouco importa assistir ao mesmo espectĂĄculo em duzentos anos ou toda a eternidade; depois, que tanto perde o homem que morre carregado de anos como o que conta breves dias, consistindo a perda no momento presente; nĂŁo se pode perder o que nĂŁo se tem.