Preguiça Corporal e Preguiça Espiritual
Há um trabalho servil, que é do corpo e para o corpo, embora a mente ajude, e um trabalho régio, que é da alma e para a alma, e quase ninguém exige às mãos. Há, portanto, uma preguiça corporal e outra espiritual, uma ou outra senhora de todos.
A primeira Ă© dominada – nĂŁo destruĂda – pela necessidade e pelo tĂ©dio; a outra, reforçada pela arrogância, raramente Ă© vencida. Os homens sĂŁo indolentes que trabalham contra a vontade com os braços e a inteligĂŞncia para fugir ao trabalho mais difĂcil da alma.
As actividade imoderadas de muitos não passam de pretextos da ociosidade espiritual. Em vez de se afadigarem para conseguir a renúncia dos bens materiais, sujeitam-se a um trabalho totalmente exterior que por vezes se converte, devido a inércia ou embriaguez, em frenesim.
Mas reformar a natureza doente e transviada, abandonar a senda da concupiscĂŞncia e alcançar a liberdade serena dos filhos da luz representa um trabalho incomparavelmente mais duro do que dirigir uma empresa, fábrica ou banco. A maioria, por cáclculo de indolĂŞncia, prefere o trabalho servil, embora penoso, ao real, mais áspero e duro – torna-se escravo das coisas terrestres para evitar o esforço que o tornaria dono do espĂrito.
Textos sobre Senhores de Giovanni Papini
2 resultadosA Mediocridade do Talento
Quem entre nĂłs nĂŁo tem talento? Mesmo aqueles que nada tĂŞm, tĂŞm talento atĂ© os polĂticos – atĂ© os jornalistas… Fique pois dito de uma vez para sempre: quem me disser que eu tenho talento, ofende-me; quem me disser que sou um homem de talento, aflige-me.
Renego o vosso talento; despejo-o com os jornais na latrina. Falo-vos claro; para mim o talento nĂŁo Ă© senĂŁo o grau sublime da mediocridade. O talento Ă© aquela forma superior de inteligĂŞncia que todos podem compreender, apreciar e amar. O talento Ă© aquela mistura saborosa de facilidade, de espĂrito, de lugares-comuns afectados, de filiteĂsmo um tanto brilhante que agrada Ă s senhoras, aos professores, aos advogados, aos mundanos, Ă s famosas pessoas cultas, em suma, a todos os que estĂŁo meio por meio entre o cĂ©u e a terra, entre o paraĂso e o inferno, a igual distância da animalidade profunda e do gĂ©nio grande.