A Subfelicidade
O que mais dói não é – desengana-te – a infelicidade. A infelicidade dói. Magoa. Martiriza. É intensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar. Mas a infelicidade não é o que mais dói. A infelicidade é infeliz – mas não é o que mais dói.
O que mais dĂłi Ă© a subfelicidade. A felicidade mais ou menos, a felicidade que nĂŁo se faz felicidade, que fica sempre a meio de se ser. A quase felicidade. A subfelicidade nĂŁo magoa – vai magoando; a subfelicidade nĂŁo martiriza – vai martirizando. NĂŁo Ă© intensa – mas Ă© imensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar – mas em silĂŞncio, em surdina, em anonimato. Como se nĂŁo fosse. Mas Ă©: a subfelicidade Ă©. A subfelicidade faz-te ficar refĂ©m do que tens – mas nem assim te impede de te sentires apeado do que nĂŁo tens e gostarias de ter. Do que está ali, sempre ali, sempre Ă mĂŁo de semear – e que, mesmo assim, nunca consegues tocar. A subfelicidade Ă© o piso -1 da felicidade. E nĂŁo há elevador algum que te leve a subir de piso. Tens de ser tu a pegar nas tuas perninhas e a subir as escadas. Anda daĂ.
Textos sobre Sensação de Pedro Chagas Freitas
2 resultadosA Grande Vantagem da Vida
– A grande vantagem da vida Ă© ensinar-nos outra vez a chorar. A vida infantiliza. Fica-se maior no que nos faz ser mais pequenos. Cresce-se fora o que se vai perdendo por dentro. Passamos a infância a querer crescer, a adolescĂŞncia a querer crescer. E depois percebemos que sĂł quer crescer quem ainda se sente pequeno. Um adulto sente-se pequeno mas pensa ao contrário. Sente-se pequeno e quer ficar mais pequeno. Voltar ao tempo em que havia sonhos.
– Onde se perdem os sonhos?
– Todos os sonhos se perdem. Mesmo aqueles que vais ganhar, e vais ganhar muitos, se vão perder. Porque já deixaram de ser sonhos. Sonhaste aquilo, tiveste aquilo. E acabou. Lá se foi o sonho. O segredo é conseguir gerar novos sonhos. Sonhos que consigam ocupar o espaço em branco deixado pelo sonho perdido.
– Mesmo que tenha sido ganho.
– Mesmo que tenha sido ganho.
– Queria ser como tu.
– E eu queria ser como tu. Queria olhar para a frente e ver que o caminho não acaba, o caminho a perder de vista.
– O teu não se perde de vista?
– O meu faz-me perder a vista.