No Amor Ă© a Alma aquilo que Mais nos Toca
As mesmas paixĂ”es sĂŁo bastante diferentes nos homens. O mesmo objecto pode-lhes agradar por aspectos opostos; suponho que vĂĄrios homens podem prender-se a uma mesma mulher; uns a amam pelo seu espĂrito, outros pela sua virtude, outros pelos seus defeitos, etc. E pode atĂ© acontecer que todos a amem por coisas que ela nĂŁo tem, como quando se ama uma mulher leviana a quem se julga sĂ©ria. Pouco importa, a gente prende-se Ă idĂ©ia que se tem prazer em fazer dela; e Ă© mesmo apenas essa idĂ©ia que se ama, nĂŁo Ă© a mulher leviana. Assim, nĂŁo Ă© o objeÂto das paixĂ”es que as degrada ou as enobrece, mas a maÂneira como a gente o encara.
Ora, eu disse que era posÂsĂvel que se buscasse no amor algo mais puro do que o interesse dos nossos sentidos. Eis o que me faz pensar assim. Vejo todos os dias no mundo que um homem cerÂcado de mulheres com as quais nunca falou, como na missa, no sermĂŁo, nem sempre se decide pela mais boniÂta, ou mesmo pela que lhe pareça tal. Qual a razĂŁo disso? Ă que cada beleza exprime um carĂĄcter bem particular, e preferimos aquele que melhor se encaixa no nosso.
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