A ImportĂąncia da Arte
A arte Ă©, provavelmente, uma experiĂȘncia inĂștil; como a «paixĂŁo inĂștil» em que cristaliza o homem. Mas inĂștil apenas como tragĂ©dia de que a humanidade beneficie; porque a arte Ă© a menos trĂĄgica das ocupaçÔes, porque isso nĂŁo envolve uma moral objectiva. Mas se todos os artistas da terra parassem durante umas horas, deixassem de produzir uma ideia, um quadro, uma nota de mĂșsica, fazia-se um deserto extraordinĂĄrio. Acreditem que os teares paravam, tambĂ©m, e as fĂĄbricas; as gares ficavam estranhamente vazias, as mulheres emudeciam. A arte Ă©, no entanto, uma coisa explosiva. Houve, e hĂĄ decerto em qualquer lugar da terra, pessoas que se dedicam Ă experiĂȘncia inĂștil que Ă© a arte, pessoas como VirgĂlio, por exemplo, e que sabem que o seu silĂȘncio pode ser mortal. Se os poetas se calassem subitamente e sĂł ficasse no ar o ruĂdo dos motores, porque atĂ© o vento se calava no fundo dos vales, penso que atĂ© as guerras se iam extinguindo, sem derrota e sem vitĂłria, com a mansidĂŁo das coisas estĂ©reis. O laço da ficção, que gera a expectativa, Ă© mais forte do que todas as realidades acumulĂĄveis. Se ele se quebra, o equilĂbrio entre os seres sofre grave prejuĂzo.
Textos sobre SilĂȘncio de Agustina Bessa-LuĂs
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O Que Ă© Escrever?
Escrever Ă© isto: comover para desconvocar a angĂșstia e aligeirar o medo, que Ă© sempre experimentado nos povos como uma infusĂŁo de laboratĂłrio, cada vez mais sofisticada. Eu penso que o escritor com maior sucesso (nĂŁo de livraria, mas de indignação social profunda) Ă© aquele que protege os homens do medo: por audĂĄcia, delĂrio, fantasia, piedade ou desfiguração. Mas porque a poĂ©tica precisĂŁo de dum acto humano nĂŁo corresponde totalmente Ă sua evidĂȘncia. Ama-se a palavra, usa-se a escrita, despertam-se as coisas do silĂȘncio em que foram criadas. Depois de tudo, escrever Ă© um pouco corrigir a fortuna, que Ă© cega, com um jĂșbilo da Natureza, que Ă© precavida.