Censura e Criatividade
Dos dĂ©spotas provĂȘm, atĂ© certo ponto, os pensadores. A palavra acorrentada Ă© terrĂvel. O escritor duplica e triplica o seu estilo, quando um senhor impĂ”e silĂȘncio ao povo. Sai desse silĂȘncio certa plenitude misteriosa que se filtra e se condensa em bronze no pensamento. A compreensĂŁo na histĂłria produz a concisĂŁo no historiador. A solidez granĂtica de tal ou tal prosa cĂ©lebre nĂŁo Ă© mais do que um amontoamento feito por um tirano.
A tirania constrange o escritor a circunscriçÔes de diĂąmetro, que sĂŁo alargamentos de força. O perĂodo ciceroniano, apenas suficiente para Verres, sobre CalĂgula embotar-se-ia. Quanto menor for a exuberĂąncia da frase, maior serĂĄ a intensidade do golpe. Sirva de exemplo a concisĂŁo de TĂĄcito no exprimir e a sua veemĂȘncia no pensar. A honestidade de um grande coração, condensada em justiça e em verdade, fulmina.
Textos sobre SilĂȘncio de Victor Hugo
3 resultadosAs Realidades da Alma
Ă certo que o homem fala a si mesmo; nĂŁo hĂĄ um Ășnico ser racional que o nĂŁo tenha experimentado. Pode-se atĂ© dizer que o mistĂ©rio do Verbo nunca Ă© mais magnĂfico do que quando, no interior do homem, vai do pensamento Ă consciĂȘncia, e volta da consciĂȘncia ao pensamento. (…) Diz, fala, exclama cada um consigo mesmo, sem que seja quebrado o silĂȘncio exterior. HĂĄ um grande tumulto; tudo fala em nĂłs, excepto a boca. As realidades da alma, por nĂŁo serem visĂveis e palpĂĄveis, nem por isso deixam de ser tambĂ©m realidades.
O Interior da Alma
O olho do espĂrito em parte nenhuma pode encontrar mais deslumbramentos, nem mais trevas, do que no homem, nem fixar-se em coisa nenhuma, que seja mais temĂvel, complicada, misteriosa e infinita. HĂĄ um espectĂĄculo mais solene do que o mar, Ă© o cĂ©u; e hĂĄ outro mais solene do que o cĂ©u, Ă© o interior da alma.
Fazer o poema da consciĂȘncia humana, mas que nĂŁo fosse senĂŁo a respeito de um sĂł homem, e ainda nos homens o mais Ănfimo, seria fundir todas as epopeias numa epopeia superior e definitiva. A consciĂȘncia Ă© o caos das quimeras, das ambiçÔes e das tentativas, o cadinho dos sonhos, o antro das ideias vergonhosas: Ă© o pandemĂłnio dos sofismas, Ă© o campo de batalha das paixĂ”es. Penetrai, a certas horas, atravĂ©s da face lĂvida de um ser humano, e olhai por trĂĄs dela, olhai nessa alma, olhai nessa obscuridade. HĂĄ ali, sob a superfĂcie lĂmpida do silĂȘncio exterior, combates de gigante como em Homero, brigas de dragĂ”es e hidras, e nuvens de fantasmas, como em Milton, espirais visionĂĄrias como em Dante.