Textos sobre Sinais de Cesare Pavese

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Textos de sinais de Cesare Pavese. Leia este e outros textos de Cesare Pavese em Poetris.

A Base da Actividade

Em nenhuma actividade é bom sinal se, de início, existe o desejo de vencer – emulação, violência, ambição, etc. Deve começar-se por amar a técnica de cada actividade por si própria, como se ama a vida pelo simples parazer de viver.
Nisto consiste a verdadeira vocação e a promessa de êxito sério. Em seguida, poderão vir todas as paixões sociais imagináveis, para reanimar o puro amor da técnica – têm mesmo que vir -, mas começar por elas é indício de que se deseja perder tempo. Em suma, é preciso amar uma actividade, como se mais nada existisse no mundo, por si própria.
É por isso que o momento significativo é o do início: porque, então, é como se o mundo (paixões sociais) não existisse ainda no que diz respeito a essa actividade.
Também porque toda a gente é capaz de se interessar por um trabalho que se sabe quanto rende; o difícil é apaixonarmo-nos gratuitamente.

O Cansaço da Literatura

Entre os sinais que me avisam de que a juventude terminou, o principal é aperceber-me de que a literatura já não me interessa verdadeiramente. Quero dizer que já não abro os livros com aquela viva e ansiosa esperança de coisas espirituais que, apesar de tudo, outrora sentia. Leio e quereria ler cada vez mais, mas já não recebo as várias experiências com entusiasmo, já não as fundo num sereno tumulto pré-poético. A mesma coisa acontece-me ao passear por Turim; já não sinto a cidade como um incentivo sentimental e simbólico para a criação. Já está feito, dá-me vontade de responder de cada vez.
Tomadas em justa conta as minhas várias equimoses, obsessões, fadigas e terrenos estéreis, resulta claro que já não sinto a vida como uma descoberta e, muito menos, então, como poesia – mas, antes, como um frio material para especulações, análises e deveres. Aqui encalha, agora, a minha vida: a política, a prática, tudo coisas que se aprendem nos livros, mas os livros não alimentam como o faz, pelo contrário, a esperança de criação.
Ora, quando novo, procurava um sistema ético: descoberta a posição do impassível explorador, vivia-a e desfrutava-a sob a forma de criação. Agora,

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A Ironia da Escolha

O prazer – um dos mais autênticos – de apreender que alguém está forçado a escolher, que não pode ter duas coisas ao mesmo tempo. É um sinal do carácter trágico da vida, que consiste no facto de um valor não se conciliar com outro. Consequência: renunciaste a muitas coisas para ter uma só – e agrada-te que os outros sintam também o império desta lei.
As pessoas que take for granted qualquer coisa entram em colisão contigo na medida justamente em que pretendem escapar a esse carácter trágico. As pessoas que gozam pagãmente qualquer coisa, idem, na medida também em que negam, por avidez, a incerteza e a contingência. Aspirar a qualquer coisa, pretendê-la, é em si mesmo agressivo na medida em que suprime a ironia da vida.
Odiamos os outros porque nos odiamos a nós próprios.
Tu, no entanto, take for granted o que não se deve take for granted. Aqui vem a propósito a pureza do coração, a humildade, a aceitação do mundo de Deus.

A Ira Nunca é Súbita

A ira nunca é súbita. Nasce de um longo roer precedente, que ulcerou o espírito e nele acumulou a força reactiva necessária para a explosão. Daqui resulta que um belo acesso de cólera não é, de forma alguma, sinal de uma índole franca e directa. É, pelo contrário, revelação involuntária de uma tendência para nutrir dentro de si o rancor – isto é, de um temperamento fechado, invejoso, e de um complexo de inferioridade.
O conselho de «estar em guarda contra quem nunca se irrita», significa, portanto, que – todos os homens, acumulando inevitavelmente ódio – convém ter especial cuidado com os que nunca se traem por acessos de ira. Quanto a ti, não fazes mal em ser insicero no teu remoer interior, mas em te traíres na explosão.

Dar Significado ao Tempo

Um dos prazeres humanos menos observados é o de preparar acontecimentos à distância, de organizar um grupo de acontecimentos que tenham uma construção, uma lógica, um começo e um fim. Este é quase sempre apercebido como um acme sentimental, uma alegre ou lisonjeira crise de conhecimento de si próprio. Isto aplica-se tanto à construção de uma resposta pronta como à de uma vida. E o que é isto, senão a premissa da arte de narrar? A arte narrativa apazigua precisamente esse gosto profundo.
O prazer de narrar e de escutar é o de ver os factos serem dispostos segundo aquele gráfico. A meio de uma narrativa volta-se às premissas e tem-se o prazer de encontrar razões, chaves, motivações causais. Que outra coisa fazemos quando pensamos no nosso próprio passado e nos comprazemos em reconhecer os sinais do presente ou do futuro? Esta construção dá, em substância, um significado ao tempo. E o narrar é, em suma, apenas um meio de o transformar em mito, de lhe fugir.

A Desventura Máxima é a Solidão

A desventura máxima é a solidão. É tão verdade que o reconforto supremo – a religião – consiste em encontrar uma companhia que nunca falhe – Deus. A oração é um desabafo, como com um amigo. A obra equivale à oração, porque nos põe em contacto com os que dela tirarão proveito. O problema da vida é, portanto, o seguinte: como romper a nossa solidão, como comunicar com os outros. Assim se explica a existência do matrimónio, da paternidade, das amizades. Mas que a felicidade resida nisto, balelas! Porque se deva estar melhor comunicando com os outros do que só, é estranho. É talvez apenas uma ilusão: a maior parte do tempo, estamos muitíssimo bem sós. É agradável ter, de tempos a tempos, um odre em que nos possamos despejar e, em seguida, bebermo-nos a nós próprios: dado que pedimos aos outros apenas aquilo que já temos em nós. É um mistério o motivo por que não basta perscrutar e beber em nós próprios e seja preciso reavermo-nos por intermédio dos outros. (O sexo é um incidente: o que recebemos é momentâneo e casual; pretendemos algo de mais secreto e misterioso de que o sexo é apenas um sinal, um símbolo).

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