Textos sobre Tarde de Bruno Vieira Amaral

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Textos de tarde de Bruno Vieira Amaral. Leia este e outros textos de Bruno Vieira Amaral em Poetris.

Olhar para as Coisas com alguma Distância

Percorrendo as ruas fui descobrindo coisas espantosas que lá ocorriam desde sempre, disfarçadas sob uma máscara tĂ©nue de normalidade: um viĂşvo que, depois de se reformar, passava as tardes sentado no carro, a porta aberta, a perna esquerda fora, a direita dentro; um sujeito tĂŁo magro que se podia tomar por uma figura de cartĂŁo, ideia reforçada por andar de bicicleta e, sobretudo, por nela carregar o papelĂŁo que recolhia nos contentores do lixo; a mulher que, com uma regularidade cronomĂ©trica, vinha Ă  janela, olhava para um lado e para o outro, como se aguardasse há muito a chegada de alguĂ©m. Eram trĂŞs exemplos de situações que – creio ser esta a melhor formulação – aconteciam desde sempre e pela primeira vez. Se olharmos para as coisas com alguma distância, retirando-as do contexto, deixando-nos contaminar pela estranheza, tudo, tudo mesmo, adquire uma aura macabra e repetitiva, singular, reconhecĂ­vel, que se mistura com a substância dos sonhos, a matĂ©ria das mentes perturbadas. Penso sempre, nĂŁo sei porque, que talvez a resposta esteja naquela revista antiga que nĂŁo resistiu Ă s traças: nos sobreviventes de Hiroxima, no clarĂŁo absoluto que os cegou, no mundo irreal em que foram condenados a viver a partir desse momento,

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A Diplomacia Ă© um ExercĂ­cio de Grande ViolĂŞncia Interior

Há momentos em que somos obrigados a conviver com pessoas de natureza tão distinta da nossa que bastam cinco minutos de contacto para percebermos que, cedo ou tarde, os diques que sustêm a hostilidade latente acabarão por ceder e quanto mais pressão pusermos sobre eles maior será a catástrofe. A questão que nos colocamos é a de saber se o ideal é passar de imediato para a fase de conflito declarado ou aguardar diplomaticamente que, como dizem alguns entendidos nas matérias, as coisas sigam ao seu ritmo, na vã esperança de que uma relação franca e honesta, ainda que difícil, seja possível. A diplomacia, sabe quem já esteve na guerra, é um exercício de grande violência interior.