As Nuvens
Hei-de aprender um ofĂcio de que goste, há tĂŁo poucos, talvez carpinteiro, ou pedreiro. Construiria uma casa neste chĂŁo de areia com pedras hĂşmidas, lisas ou cheias de limos, frias, sĂŁo tĂŁo bonitas, com seus veios cruzando-se, ou afastando-se de costas uns para os outros. Havia de meter-me por esses miĂşdos caminhos de chibas para ver, ao fim da tarde, chegar os saltimbancos em toda a sua glĂłria, que me apontam as nuvens lentas, muito brancas, afastando-se.
Textos sobre Tarde de Eugénio de Andrade
2 resultadosO Porto Ă© SĂł…
O Porto é só uma certa maneira de me refugiar na tarde, forrar-me de silêncio e procurar trazer à tona algumas palavras, sem outro fito que não seja o de opor ao corpo espesso destes muros a insurreição do olhar.
O Porto é só esta atenção empenhada em escutar os passos dos velhos, que a certas horas atravessam a rua para passarem os dias no café em frente, os olhos vazios, as lágrimas todas das crianças de S. Victor correndo nos sulcos da sua melancolia.
O Porto é só a pequena praça onde há tantos anos aprendo metodicamente a ser árvore, procurando assim parecer-me cada vez mais com a terra obscura do meu próprio rosto.
Desentendido da cidade, olho na palma da mĂŁo os resĂduos da juventude, e dessa paixĂŁo sem regra deixarei que uma pĂ©tala poise aqui, por ser tĂŁo branca.1979