Reciclagem de Amizades

Um homem de mente activa e elĂĄstica desgasta as suas amizades, assim como certamente desgasta os seus casos amorosos, as suas tendĂȘncias polĂ­ticas e a sua epistemologia. Elas tornam-se puĂ­das, esfrangalhadas, artificiais, irritantes e deprimentes. Transformam-se de realidades vivas em nulidades moribundas, e entram em sinistra oposição Ă  liberdade, ao auto-respeito e Ă  verdade. É tĂŁo repelente conservĂĄ-las, depois que se tornam ocas e podem ser sopradas como uma mosca, quanto manter uma paixĂŁo depois que esta paixĂŁo jĂĄ se tornou um cadĂĄver. Todo o homem prudente, ao lembrar-se de que a vida Ă© curta, deveria dispensar uma hora ou duas, de vez em quando, para um exame crĂ­tico de suas amizades. Deve pesĂĄ-las, repensĂĄ-las, testar se ainda contĂȘm algum metal. Algumas poderĂŁo sobreviver, talvez com mudanças radicais nos seus termos. Mas a maioria serĂĄ varrida em poucos minutos e ele tentarĂĄ esquecĂȘ-las, assim como tenta esquecer os seus frios e pegajosos amores do ano retrasado.