Textos sobre Tentação

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Textos de tentação escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Armadilha do Empenho

Fugir dos empenhos é das primeiras máximas da prudência. Nas grandes capacidades há sempre grandes distâncias, até aos últimos detalhes do término. Há muito para andar de um extremo ao outro, e eles estão sempre inebriados pela sua boa conduta: chegam tarde ao rompimento, pois é mais fácil furtar-se à ocasião perigosa do que se sair bem dela. Nas tentações do juízo, mais seguro é fugir do que vencer. Um empenho traz outro maior e está perto do despenho. Há homens que, por génio e mesmo por inclinação, metem-se em obrigações, mas quem caminha à luz da razão sempre vai com muita consideração. Estima-se ter mais valor o não se empenhar que o vencer, e, já que há um tolo profiado, escusa-se que com ele sejam dois.

Nunca Confiar Demais

Nenhum homem acredita piamente em nenhum outro homem. Pode-se acreditar piamente numa ideia, mas não num homem. No mais alto grau de confiança que ele pode despertar, haverá sempre o aroma da dúvida – uma sensação meio instintiva e meio lógica de que, no fim das contas, o vigarista deve ter um ás escondido na manga. Esta dúvida, como parece óbvio, é sempre mais do que justificada, porque ainda não nasceu o homem merecedor de confiança ilimitada – a sua traição, no máximo, espera apenas por uma tentação suficiente. O problema do mundo não é o de que os homens sejam muito suspeitos neste sentido, mas o de que tendem a ser confiantes demais – e de que ainda confiam demais em outros homens, mesmo depois de amargas experiências. Acredito que as mulheres sejam sabiamente menos sentimentais, tanto nisto como em outras coisas. Nenhuma mulher casada põe a mão no fogo por seu marido, nem age com se confiasse nele. A sua principal certeza assemelha-se à de um batedor de carteiras: a de que o guarda que o apanhou poderá ser subornado.

Aprender a Ceder

Aos sonhos, como aos pesadelos, chega sempre a hora de acordar. É essencial compreender a realidade, viver de olhos abertos, acolher a simplicidade da vida antes de querer resolver a complexidade do mundo.

Cada um de nós tem o seu lugar no mundo, talvez a ninguém caiba o do centro. Nas nossas relações com o mundo, com os outros e connosco, é mais sábio aceitar do que impor, admirar do que exibir, amar do que procurar ser amado…
Viver é aprender a ceder. A libertarmo-nos de nós mesmos. Só o nosso espírito nos pode soltar porque só ele nos aprisiona. Ser autenticamente feliz depende de uma transformação na forma de olharmos o mundo, aceitando-o sem grandes condições e agindo sem precipitações. Cedendo. Cedendo, sempre. Pois que é melhor manter um amigo do que ficar com a razão, mas sozinho. Há que abrir espaços em nós para que a serenidade que assim se alcança convide a felicidade a fazer do nosso espírito morada sua.

A humildade e a simplicidade são formas de ser, não de parecer.

Um erro comum é querer ser tudo já. Nunca nada chega… e são tantas vezes as saudades a revelarem-nos o verdadeiro valor dos instantes vividos mas já passados.

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A Chama da Vida e o Fogo das Paixões

Nem sempre estar apaixonado é bom. A maior parte das paixões tomam conta da vontade e assumem o controlo do sentir e do pensar. Prometem a maior das libertações, mas escravizam quem desiste de si mesmo e a elas se submete.

A paixão é sofrimento, um furor que é o oposto da paz e do contentamento. Um vazio fulminante capaz das maiores acrobacias para se satisfazer. Mas que, como nunca se sacia, acaba por se consumir, por se destruir a si mesmo. Para ter paz precisamos de fazer esta guerra, na conquista do mais exigente de todos os equilíbrios: entre a monotonia de nada arriscar e a imprudência de entregar tudo sem uma vontade própria profunda. É essencial que saibamos desafiarmo-nos, por vezes, a um profundo desequilíbrio momentâneo. Afinal, quem nunca ousa está perdido, para sempre.
Há boas paixões. São as que trabalham como um fermento. De forma pacata, pacífica e paciente. Animam, mas não dominam. Orientam, mas não decidem. Iluminam, mas não cegam.

Quase ninguém faz ideia da capacidade que cada um de nós tem para suportar e vencer grandes sofrimentos…

Por paixões comuns, há quem perca a cabeça, o coração e a alma.

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A Prova da Existência de Deus

Não será um empreendimento excêntrico pretender extrair dos actos de Napoleão a prova da sua existência? Porque, se é verdade que a sua existência explica os seus actos, os seus actos não podem provar a sua existência, a menos que esta tenha já sido implicitamente posta na palavra sua. Além disso, na medida em que Napoleão não é senão um indivíduo, não existe entre os seus actos e ele relação absoluta tal que nenhum outro indivíduo seria capaz das mesmas acções: é talvez essa a razão que me impede de concluir dos actos para a existência. Com efeito, se digo que os actos são de Napoleão, então a prova é supérflua, pois que já me referi a ela; mas se ignoro o nome do seu autor, como provar pelos próprios actos que eles são efectivamente de Napoleão? Não posso ultrapassar a afirmação, inteiramente abstracta, de que procedem de um grande general, etc.
Pelo contrário, entre Deus e os seus actos existe uma relação absoluta, porque Deus não é um nome, mas um conceito, e é talvez por isso que a sua essentia involvit existentiam. Assim, os actos de Deus só Deus pode praticá-los; muito bem; mas quais são então os actos de Deus?

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