Textos sobre Terra de François de La Rochefoucauld

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Textos de terra de François de La Rochefoucauld. Leia este e outros textos de François de La Rochefoucauld em Poetris.

O Homem Congrega Todas as Espécies de Animais

HĂĄ tĂŁo diversas espĂ©cies de homens como hĂĄ diversas espĂ©cies de animais, e os homens sĂŁo, em relação aos outros homens, o que as diferentes espĂ©cies de animais sĂŁo entre si e em relação umas Ă s outras. Quantos homens nĂŁo vivem do sangue e da vida dos inocentes, uns como tigres, sempre ferozes e sempre cruĂ©is, outros como leĂ”es, mantendo alguma aparĂȘncia de generosidade, outros como ursos grosseiros e ĂĄvidos, outros como lobos arrebatadores e impiedosos, outros ainda como raposas, que vivem de habilidades e cujo ofĂ­cio Ă© enganar!
Quantos homens nĂŁo se parecem com os cĂŁes! Destroem a sua espĂ©cie; caçam para o prazer de quem os alimenta; uns andam sempre atrĂĄs do dono; outros guardam-lhes a casa. HĂĄ lebrĂ©us de trela que vivem do seu mĂ©rito, que se destinam Ă  guerra e possuem uma coragem cheia de nobreza, mas hĂĄ tambĂ©m dogues irascĂ­veis, cuja Ășnica qualidade Ă© a fĂșria; hĂĄ cĂŁes mais ou menos inĂșteis, que ladram frequentemente e por vezes mordem, e hĂĄ atĂ© cĂŁes de jardineiro. HĂĄ macacos e macacas que agradam pelas suas maneiras, que tĂȘm espĂ­rito e que fazem sempre mal. HĂĄ pavĂ”es que sĂł tĂȘm beleza, que desagradam pelo seu canto e que destroem os lugares que habitam.

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O Interesse Ă© a Alma do Amor-PrĂłprio

O interesse Ă© a alma do amor-prĂłprio, de modo que, tal como o corpo privado da sua alma nĂŁo vĂȘ, nĂŁo ouve, nĂŁo conhece, nĂŁo sente e nĂŁo se move, o amor-prĂłprio, se pode assim dizer-se, separado dos seus interesses, nĂŁo vĂȘ, nĂŁo escuta, nĂŁo sente e nĂŁo se move. DaĂ­ que um homem que corra a terra e os mares para seu benefĂ­cio fique de repente paralisado para os interesses dos outros e daĂ­, tambĂ©m, o adormecimento em que cai de repente, tal como esta espĂ©cie de morte que provocamos a todos aqueles a quem narramos a nossa vida. DaĂ­ vem tambĂ©m a rĂĄpida ressurreição quando na nossa narrativa pomos qualquer coisa que lhes diga respeito, de modo que vemos nas nossas conversas e nos nossos tratados que, no mesmo instante, um homem adormece e volta a si, consoante o interesse se aproxima ou se afasta dele.