Sem Medo nem Esperança
Li no nosso HecatĂŁo que pĂ´r termo aos desejos Ă© proveitoso como remĂ©dio aos nossos temores. Diz ele: «deixarás de ter medo quando deixares de ter esperança». Perguntarás tu como Ă© possĂvel conciliar duas coisas tĂŁo diversas. Mas Ă© assim mesmo, amigo LucĂlio: embora pareçam dissociadas, elas estĂŁo interligadas. Assim como uma mesma cadeia acorrenta o guarda e o prisioneiro, assim aquelas, embora parecendo dissemelhantes, caminham lado a lado: Ă esperança segue-se sempre o medo. Nem Ă© de admirar que assim seja: ambos caracterizam um espĂrito hesitante, preocupado na expectativa do futuro.
A causa principal de ambos é que não nos ligamos ao momento presente antes dirigimos o nosso pensamento para um momento distante e assim é que a capacidade de prever, o melhor bem da condição humana, se vem a transformar num mal. As feras fogem aos perigos que vêem mas assim que fugiram recobram a segurança. Nós tanto nos torturamos com o futuro como com o passado. Muitos dos nossos bens acabam por ser nocivos: a memória reactualiza a tortura do medo, a previsão antecipa-a; apenas com o presente ninguém pode ser infeliz!
Textos sobre Tortura de SĂ©neca
2 resultadosA Adversidade Ă© Essencial
PorquĂŞ espantar-nos que possa ser vantajoso, por vezes mesmo desejável, expor-nos ao fogo, Ă s feridas, Ă morte, Ă prisĂŁo? Para o homem esbanjador a austeridade Ă© um castigo, para o preguiçoso o trabalho equivale a um suplĂcio; ao efeminado toda a labuta causa dĂł, para o indolente qualquer esforço Ă© uma tortura: pela mesma ordem de ideias toda a actividade de que nos sentimos incapazes se nos afigura dura e intolerável, esquecendo-nos de que para muitos Ă© uma autĂŞntica tortura passar sem vinho ou acordar de madrugada! Qualquer destas situações nĂŁo Ă© difĂcil por natureza, os homens Ă© que sĂŁo moles e efeminados!
Para formar juĂzos de valor sobre as grandes questões há que ter uma grande alma, pois de outro modo atribuiremos Ă s coisas um defeito que Ă© apenas nosso, tal como objectos perfeitamente direitos nos parecem tortos e partidos ao meio quando os vemos metidos dentro de água. O que interessa nĂŁo Ă© o que vemos, mas o modo como o vemos; e no geral o espĂrito humano mostra-se cego para a verdade!
Indica-me um jovem ainda incorrupto e de espĂrito alerta, e ele nĂŁo hesitará em julgar mais afortunado o homem capaz de suportar todo o peso da adversidade sem dobrar os ombros,