O Perigo da Leitura Excessiva
Quando lemos, outra pessoa pensa por nĂłs: repetimos apenas o seu processo mental. Ocorre algo semelhante quando o estudante que estĂĄ a aprender a escrever refaz com a pena as linhas traçadas a lĂĄpis pelo professor. Sendo assim, na leitura, o trabalho de pensar Ă©-nos subtraĂdo em grande parte. Isso explica o sensĂvel alĂvio que experimentamos quando deixamos de nos ocupar com os nossos pensamentos para passar Ă leitura. PorĂ©m, enquanto lemos, a nossa cabeça, na realidade, nĂŁo passa de uma arena dos pensamentos alheios. E quando estes se vĂŁo, o que resta? Essa Ă© a razĂŁo pela qual quem lĂȘ muito e durante quase o dia inteiro, mas repousa nos intervalos, passando o tempo sem pensar, pouco a pouco perde a capacidade de pensar por si mesmo – como alguĂ©m que sempre cavalga e acaba por desaprender a caminhar. Tal Ă© a situação de muitos eruditos: Ă força de ler, estupidificaram-se. Pois ler constantemente, retomando a leitura a cada instante livre, paralisa o espĂrito mais do que o trabalho manual contĂnuo, visto que, na execução deste Ășltimo, Ă© possĂvel entregar-se aos seus prĂłprios pensamentos.
No entanto, como uma mola que, pela pressĂŁo constante acarretada por meio de um corpo estranho,
Textos sobre Trabalho de Arthur Schopenhauer
2 resultadosO Engano do Imediato
Ă preciso dominar a impressĂŁo produzida pelo que Ă© visĂvel e presente; tal impressĂŁo tem uma força extraordinĂĄria se for confrontada com o que Ă© meramente pensado e sabido, nĂŁo em virtude de sua matĂ©ria e seu conteĂșdo, frequentemente insignificantes, mas da sua forma, da clareza e do imediatismo por meio dos quais ela se impĂ”e ao espĂrito, perturbando a sua paz ou atĂ© mesmo fazendo vacilar os seus propĂłsitos. Ă assim que algo agradĂĄvel, ao qual renunciamos depois de reflectir, nos estimula quando o temos diante dos olhos; assim nos magoa um julgamento cuja incompetĂȘncia Ă© do nosso conhecimento, irrita-nos uma ofensa cujo carĂĄcter desprezĂvel compreendemos; da mesma maneira, dez razĂ”es contra a existĂȘncia de um perigo sĂŁo sobrepujadas pela falsa aparĂȘncia da sua real presença etc.
(…) Quando todos os que nos circundam tĂȘm uma opiniĂŁo diferente da nossa e se comportam em conformidade com ela, Ă© difĂcil nĂŁo ficarmos abalados, por mais que estejamos convencidos do erro dessas pessoas. Pois o que Ă© presente, o visĂvel, por estar facilmente ao alcance da vista, age sempre com toda a sua força; em contrapartida, pensamentos e causas requerem tempo e calma para serem analisados com cuidado, razĂŁo pela qual nĂŁo podemos tĂȘ-los presentes a todo o instante.