Textos sobre Últimos de Manoel de Oliveira

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Textos de Ășltimos de Manoel de Oliveira. Leia este e outros textos de Manoel de Oliveira em Poetris.

A Esperança é o Bordão da Vida

A esperança Ă© o bordĂŁo da vida. HĂĄ uma coisa do Padre Vieira, muito bonita, em que ele fala do Non. TerrĂ­vel palavra Ă© o non, de qualquer lado por onde se pegue, Ă© sempre Non – isto aparece no meu filme “Non ou a vĂŁ glĂłria de mandar”, dito por esse grande actor, o Ruy de Carvalho. A Ășltima palavra do Vieira sobre Non Ă©: “O Non tira a esperança, que Ă© a Ășltima coisa que a natureza deixou ao homem”. Sem esperança nĂŁo se pode viver.

[A esperança e o desejo sĂŁo o que nos impele a fazer, prosseguir. Mas nĂŁo Ă© supremamente difĂ­cil mantĂȘ-los vivos?]

O desejo nĂŁo nos impele para existir. O desejo impele para a continuidade da espĂ©cie. O que nos impele Ă  existĂȘncia Ă© o que diz o maia, “come para viveres”, e isso Ă© a fome. A fome Ă© o que nos garante a subsistĂȘncia. Se nĂŁo tivĂ©ssemos fome, nĂŁo comĂ­amos, nĂŁo comendo, nĂŁo sobrevivĂ­amos. Se nĂŁo tivĂ©ssemos o desejo, nĂŁo terĂ­amos a relação sexual e a relação sexual Ă© que garante a continuidade da espĂ©cie. O desejo Ă© uma coisa, a fome Ă© outra. SĂŁo os dois para a continuidade: um para a continuidade do indivĂ­duo,

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A Casa do Homem

Imagine uma pessoa que nĂŁo tem lugar. Anda perdido, desorientado. E imagine outra pessoa que Ă© filho de famĂ­lia, tem os pais, os irmĂŁos, a casa. A casa Ă© muito importante. Vai sempre seguro de si porque tem um sĂ­tio de acolhimento se as coisas lhe falharem. Digamos a casa, digamos o lugar, digamos o sĂ­tio. Tal como o Ulisses volta a casa. Ele quer voltar ao recolhimento, Ă  segurança, ao aconchego. O aconchego do ventre da mĂŁe. A casa do homem Ă© o ventre da mĂŁe. Onde ele estĂĄ e nĂŁo precisa de fazer nada, tem tudo. E Ă© feliz. E quando o Ulisses vem moribundo e fala na morte, surge a ideia de tĂșnel que Ă© o nascimento do feto, uma reminiscĂȘncia. Por exemplo, o filme falado termina com o comandante que vĂȘ a casa a destruir-se, porque a casa dele Ă© o navio. Mas hĂĄ o lado Ă©tico: o capitĂŁo deve ser o Ășltimo a deixar o barco, e ele tem um passageiro e nĂŁo pode ir lĂĄ substitui-lo. Este Ă© o grande drama. Ele vĂȘ arruinar todo o sistema, toda a sua vida, que estĂĄ concentrada na sua casa. É essa a tragĂ©dia que o mundo sofre agora.

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