Textos sobre Valor de Jean-Paul Sartre

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Textos de valor de Jean-Paul Sartre. Leia este e outros textos de Jean-Paul Sartre em Poetris.

O Cerne da Escrita e da Leitura

NĂŁo se Ă© escritor por se ter preferido dizer certas coisas, mas por se ter preferido dizĂȘ-las duma certa maneira. E o estilo faz, evidentemente, o valor da prosa. Mas deve passar despercebido. Uma vez que as palavras sĂŁo transparentes e que o olhar as atravessa, seria absurdo meter entre elas vidros despolidos. Aqui, a beleza Ă© apenas uma força doce e insensĂ­vel.
Num quadro, brilha antes de mais nada; num livro, esconde-se, age por persuasĂŁo como o encanto duma voz ou dum rosto, nĂŁo obriga, faz curvar sem que se dĂȘ por isso e pensa-se ceder aos argumentos quando afinal se Ă© solicitado por um encanto imperceptĂ­vel. A cerimĂłnia da missa nĂŁo Ă© a fĂ©, ela dispĂ”e a isso; a harmonia das palavras, a sua beleza, o equilĂ­brio das frases, dispĂ”em as paixĂ”es do leitor sem que ele dĂȘ por isso, ordenam-nas como a missa, como a mĂșsica, como uma dança; se acaba por as considerar em si mesmas, perde o sentido, apenas restam oscilaçÔes aborrecidas.

A Imortalidade Pela Literatura, a Filosofia Como Meio de a Aceder

Simone de Beauvoir: Com que contava para sobreviver – na medida em que pensava sobreviver: com a literatura ou com a filosofia? Como sentia a sua relação com a literatura e a filosofia? Prefere que as pessoas gostem da sua filosofia ou da sua literatura, ou quer que gostem das duas?
Jean-Paul Sartre: Claro que responderei: que gostem das duas. Mas hå uma hierarquia, e a hierarquia é a filosofia em segundo e a literatura em primeiro. Desejo obter a imortalidade pela literatura, a filosofia é um meio de aceder a ela. Mas aos meus olhos ela não tem em si um valor absoluto, porque as circunstùncias mudarão e trarão mudanças filosóficas. Uma filosofia não é vålida por enquanto, não é uma coisa que se escreve para os contemporùneos; ela especula sobre realidades intemporais; serå forçosamente ultrapassada por outros porque fala da eternidade; fala de coisas que ultrapassam de longe o nosso ponto de vista individual de hoje; a literatura, pelo contrårio, inventaria o mundo presente, o mundo que se descobre através das leituras, das conversas, das paixÔes, das viagens; a filosofia vai mais longe; ela considera que as paixÔes de hoje, por exemplo, são paixÔes novas que não existiam na Antiguidade;

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Antes de Vivermos, a Vida Ă© Coisa Nenhuma

O homem começa por existir, isto é, o homem é de início o que se lança para um futuro e o que é consciente de se projectar no futuro. O homem é primeiro um projecto que se vive subjectivamente, em vez de ser musgo, podridão ou couve-flor; nada existe previamente a esse projecto; nada existe no céu ininteligível, e o homem serå em primeiro lugar o que tiver projectado ser. Não o que tiver querido ser. Porque o que nós entendemos ordinariamente por querer é uma decisão consciente, e para a generalidade das pessoas posterior ao que se elaborou nelas. Posso querer aderir a um partido, escrever um livro, casar-me: tudo isto é manifestação de uma escolha mais original mais espontùnea do que se denomina por vontade.
(…) Escreveu Dostoievsky: «Se Deus nĂŁo existisse, tudo seria permitido.» É esse o ponto de partida do existencialismo. Com efeito, tudo Ă© permitido se Deus nĂŁo existe, e, por conseguinte, o homem encontra-se abandonado, porque nĂŁo encontra em si, nem fora de si, a que agarrar-se. Ao começo nĂŁo tem desculpa. Se, na verdade, a existĂȘncia precede a essĂȘncia, nĂŁo Ă© possĂ­vel explicação por referĂȘncia a uma natureza humana dada e hirta;

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