Textos sobre Virtude de Antoine de Saint-Exupéry

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Textos de virtude de Antoine de Saint-Exupéry. Leia este e outros textos de Antoine de Saint-Exupéry em Poetris.

Perfeição Ă© Virtude e nĂŁo AusĂȘncia de Defeitos

A virtude Ă© a perfeição no estado de homem e nĂŁo a ausĂȘncia de defeitos. Se eu quero construir uma cidade, pego na malandragem e na ralĂ©. O poder hĂĄ-de nobilitĂĄ-las. Ofereço-lhes uma embriaguez, diferente da embriaguez medĂ­ocre da rapina, da usura ou da violação. É ver aqueles braços nodosos que edificam. O orgulho vai-se transformando em torres, templos e muralhas. A crueldade torna-se grandeza e rigor na disciplina. E ei-los a servirem uma cidade nascida deles prĂłprios. Trocaram-se por ela no fundo dos coraçÔes. E morrerĂŁo de pĂ©, nas muralhas, para a salvarem. SĂł descobrirĂĄs neles virtudes resplandecentes.
«Mas tu, que pĂ”es mĂĄ cara diante do poder da terra, diante da grosseria, da podridĂŁo e dos vermes dos homens, começas por pedir ao homem que nĂŁo seja e que nĂŁo tenha nem sequer cheiro. Reprovas-lhe a expressĂŁo da sua força. Instalas capados Ă  frente do impĂ©rio. E eles entram a perseguir o vĂ­cio, que nĂŁo passa de poder mal empregado. É o poder e a vida que eles perseguem e, no entanto, tornam-se guardiĂ”es de museu e vigiam um impĂ©rio morto»

MiserĂĄveis Macabros

É que nĂŁo foram tĂŁo poucas como isso as vezes que vi a piedade enganar-se. NĂłs, que governamos os homens, aprendemos a sondar-lhes os coraçÔes, para sĂł ao objecto digno de estima dispensarmos a nossa solicitude. Mais nĂŁo faço do que negar essa piedade Ă s feridas de exibição que comovem o coração das mulheres. Assim como tambĂ©m a nego aos moribundos, e alĂ©m disso aos mortos. E sei bem porquĂȘ.
Houve uma altura da minha mocidade em que senti piedade pelos mendigos e pelas suas Ășlceras. AtĂ© chegava a apalavrar curandeiros e a comprar bĂĄlsamos por causa deles. As caravanas traziam-me de uma ilha longĂ­nqua unguentos derivados do ouro, que tĂȘm a virtude de voltar a compor a pele ao cimo da carne. Procedi assim atĂ© descobrir que eles tinham como artigo de luxo aquele insuportĂĄvel fedor. Surpreendi-os a coçar e a regar com bosta aquelas pĂșstulas, como quem estruma uma terra para dela extrair a flor cor de pĂșrpura. Mostravam orgulhosamente uns aos outros a sua podridĂŁo e gabavam-se das esmolas recebidas.
Aquele que mais ganhara comparava-se a si prĂłprio ao sumo sacerdote que expĂ”e o Ă­dolo mais prendado. Se consentiam em consultar o meu mĂ©dico, era na esperança de que o cancro deles o surpreendesse pela pestilĂȘncia e pelas proporçÔes.

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