Textos sobre Vontade de René Descartes

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Textos de vontade de René Descartes. Leia este e outros textos de René Descartes em Poetris.

A Verdadeira Generosidade

Observo em nĂłs apenas uma Ășnica coisa que nos pode dar justa razĂŁo para nos estimarmos, a saber: o uso do nosso livre-arbĂ­trio e o domĂ­nio que temos sobre as nossas vontades. Pois as acçÔes que dependem desse livre-arbĂ­trio sĂŁo as Ășnicas pelas quais podemos com razĂŁo ser louvados ou censurados, e ele torna-nos de alguma forma semelhante a Deus ao fazer-nos senhores de nĂłs mesmos, desde que por cobardia nĂŁo percamos os direitos que nos dĂĄ.
Assim, creio que a verdadeira generosidade, que faz um homem estimar-se a si mesmo no mais alto grau em que pode legitimamente estimar-se, consiste somente, por uma parte, em que ele sabe que não hå algo que realmente lhe pertença a não ser essa livre disposição das suas vontades, nem por que ele deva ser louvado ou censurado a não ser porque faz bom ou mau uso dela; e, por outra parte, em que ele sente em si mesmo uma firme e constante resolução de fazer bom uso dela, isto é, de nunca deixar de ter vontade para empreender e executar todas as coisas que julgar serem as melhores. Isso é seguir perfeitamente a virtude.

Nota: O latim generosus designa o homem ou animal que é de boa raça.

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A Força da Alma não Basta sem o Conhecimento da Verdade

É verdade que hĂĄ pouquĂ­ssimos homens tĂŁo fracos e irresolutos que desejem apenas o que a sua paixĂŁo lhes dita. A maioria tem determinados julgamentos, pelos quais pautam uma parte das suas acçÔes. E embora frequentemente esses julgamentos estejam errados, e mesmo se fundamentem em algumas paixĂ”es pelas quais a vontade anteriormente se deixou vencer ou seduzir, entretanto, como ela continua a segui-los quando a paixĂŁo que os causou estĂĄ ausente, podemos considerĂĄ-los como suas prĂłrpias armas, e pensar que as almas sĂŁo tanto mais fracas ou mais fortes quanto menos ou mais conseguirem seguir esses julgamentos e resistir Ă s paixĂ”es presentes que lhes sĂŁo contrĂĄrias.
Mas hĂĄ no entanto grande diferença entre as resoluçÔes que procedem de alguma opiniĂŁo errada e as que se baseiam apenas no conhecimento da verdade; tanto que, se seguirmos estas Ășltimas, estamos seguros de nunca sentirmos pesar nem arrependimento, ao passo que sempre os temos por haver seguido as primeiras, quando descobrimos que estĂŁo erradas.