Passagens sobre Tristeza

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Frases sobre tristeza, poemas sobre tristeza e outras passagens sobre tristeza para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

O amor envolve alegrias puras e tristezas fundas, sorrisos sinceros e dores profundas. Amar não é ser feliz. Mas será muito mais importante amar do que ser feliz, porque só é feliz quem ama, seja neste momento ou na eternidade.

A alegria tem uma vergonha que é só dela e é malcriado proclamá-la. Ou, pelo menos, cria a impressão de dar azar. Parece existir, no contrato existencial, uma obrigação para com a tristeza que não destoe do mau estado do mundo e do sofrimento humana.

As Saudades que Sinto de Ti

Meu Bebé, meu Bebezinho querido:

Sem saber quando te entregarei esta carta, estou escrevendo em casa, hoje, domingo, depois de acabar de arrumar as coisas para a mudança de amanhã de manhã. Estou outra vez mal da garganta; está um dia de chuva; estou longe de ti — e é isto tudo o que tenho para me entreter hoje, com a perspectiva da maçada da mudança amanhã, com chuva talvez e comigo doente, para uma casa onde não está absolutamente ninguém. Naturalmente (a não ser que esteja já inteiramente bom e arranje as coisas de qualquer modo, o que faço é ir pedir guarida cá na Baixa ao Marianno Sant’Anna, que, além de ma dar de bom grado, me trata da garganta com competência, como fez no dia 19 deste mês quando eu tive a outra angina.

Não imaginas as saudades de ti que sinto nestas ocasiões de doença, de abatimento e de tristeza. O outro dia, quando falei contigo a propósito de eu estar doente, pareceu-me (e creio que com razão) que o assunto te aborrecia, que pouco te importavas com isso. Eu compreendo bem que, estando tu de saúde, pouco te rales com o que os outros sofrem,

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Lembre-vos quão sem Mudança

Lembre-vos quão sem mudança,
Senhora, Ă© meu querer,
perdida toda esperança;
e de mim vossa lembrança
nunca se pode perder.
Lembre-vos quĂŁo sem por quĂŞ
desconhecido me vejo;
e, com tudo, minha fé
sempre com vossa mercĂŞ,
com mais crecido desejo.

Lembre-vos que se passaram
muitos tempos, muitos dias,
todos meus bens se acabaram,
com tudo, nunca mudaram;
querer-vos, minhas porfias.
Lembre-vos quanta rezĂŁo
tive pera esquecer-vos,
e sempre meu coração,
quanto menos galardĂŁo,
tanto mais firme em querer-vos.

Lembre-vos que, sem mudar
o querer desta vontade,
me haveis sempre de lembrar,
té de todo me acabar,
vĂłs e vossa saudade.
Lembre-vos como pagais
o tempo que me deveis,
olhai quĂŁo mal me tratais:
Sam o que vos quero mais,
o que menos vĂłs quereis.

Lembre-vos tempo passado,
nĂŁo porque de lembrar seja,
mas vereis quĂŁo magoado
devo de ser c’o cuidado
do que minha alma deseja.
Lembre-vos minha firmeza,
de vĂłs tĂŁo desconhecida,
lembre-vos vossa crueza,
junta com minha tristeza,

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O autor aos seus versos

Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza e sem brandura,
Urdidos pela mĂŁo da Desventura,
Pela baça Tristeza envenenados:

Vede a luz, nĂŁo busqueis, desesperados,
No mudo esquecimento a sepultura;
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados:

NĂŁo vos inspire, Ăł versos, cobardia
Da sátira mordaz o furor louco,
Da maldizente voz e tirania:

Desculpa tendes, se valeis tĂŁo pouco,
Que nĂŁo pode cantar com melodia
Um peito de gemer cansado e rouco.

Infância

Passa lento o tempo da escola e a sua angĂşstia
com esperas, com infinitas e monótonas matérias.
Oh solidĂŁo, oh perda de tempo tĂŁo pesada…
E entĂŁo, Ă  saĂ­da, as ruas cintilam e ressoam
e nas praças as fontes jorram,
e nos jardins é tão vasto o mundo —.
E atravessar tudo isto em calções,
diferente de como os outros vão e foram —:
Oh tempo estranho, oh perda de tempo,
oh solidĂŁo.

E olhar tudo isto à distância:
homens e mulheres; homens, homens, mulheres
e crianças, tão diferentes e coloridas —;
e entĂŁo uma casa, e de vez em quando um cĂŁo
e o medo surdo trocando-se pela confiança:
Oh tristeza sem sentido, oh sonho, oh medo,
Oh infindável abismo.

E entĂŁo jogar: Ă  bola e ao arco,
num jardim que manso se desvanece
e por vezes tropeçar nos crescidos,
cego e embrutecido na pressa de correr e agarrar,
mas ao entardecer, com pequenos passos tĂ­midos,
voltar silencioso a casa, a mão agarrada com força —:
Oh compreensĂŁo cada vez mais fugaz,
Oh angĂşstia,

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Banzo

Visões que na alma o céu do exílio incuba,
Mortais visões! Fuzila o azul infando…
Coleia, basilisco de ouro, ondeando
O NĂ­ger… Bramem leões de fulva juba…

Uivam chacais… Ressoa a fera tuba
Dos cafres, pelas grotas retumbando,
E a estrelada das árvores, que um bando
De paquidermes colossais derruba…

Como o guaraz nas rubras penhas dorme,
Dorme em nimbos de sangue o sol oculto…
Fuma o saibro africano incandescente…

Vai com a sombra crescendo o vulto enorme
Do baobá… E cresce na alma o vulto
De uma tristeza, imensa, imensamente…

A estrada do monte

Não digas nada a ninguém
que eu ando no mundo triste
a minha amada, que eu mais gostava,
dançou, deixou-me da mão;
Eu a dizer-lhe que queria
ela a dizer-me que nĂŁo
e a passarada
nĂŁo se calava
cantando esta canção

Sim, foi na estrada do monte
perdi o teu grande amor
Sim ali ao pé da fonte
perdi o teu grande amor

Ai que tristeza que eu sinto
fiquei no mundo tĂŁo sĂł
e aquela fonte, ficou marcada
com tanto que se chorou
Se alguém aqui nunca teve
uma razĂŁo para chorar
siga essa estrada
nĂŁo diga nada
que eu fico aqui a chorar

Sim, foi na estrada do monte
perdi o teu grande amor
Sim ali ao pé da fonte
perdi o teu grande amor

São Plácidas Todas as Horas que Nós Perdemos

Mestre, são plácidas
Todas as horas
Que nĂłs perdemos,
Se no perdĂŞ-las,
Qual numa jarra,
NĂłs pomos flores.

Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
NĂŁo a viver,

Mas decorrĂŞ-la,
Tranquilos, plácidos,
Lendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza…

Ă€ beira-rio,
Ă€ beira-estrada,
Conforme calha,
Sempre no mesmo
Leve descanso
De estar vivendo.

O tempo passa,
NĂŁo nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos,
Sentir-nos ir.

NĂŁo vale a pena
Fazer um gesto.
NĂŁo se resiste
Ao deus atroz
Que os prĂłprios filhos
Devora sempre.

Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mĂŁos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.

GirassĂłis sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos
TranqĂĽilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.

Se um homem é feliz então está triste todos os dias. Cada dia tem o seu quinhão de tristeza ou a sua pequena preocupação.

A Doutrina Ă© o Verdadeiro Mantimento do Engenho

Os estudos dão sazão e gosto à alegria: amansam e consolam a tristeza; refreiam os ímpetos loucos da mocidade; aliviam o peso da velhice; em casa ou fora de casa, em público ou em segredo, na solidão ou na praça, na ociosidade ou no labor, sempre vos acompanham; estão presentes, guiam-vos, ajudam-vos, servem-vos. A doutrina é o verdadeiro mantimento do engenho, aquilo que o nutre e sustém; tanto que é grande despropósito ter o cuidado de manter o corpo quando o ânimo tem fome e carece de mantimento. Este manjar do ânimo dá verdadeiros deleites, traz gozos e regozijos firmes e perpétuos, que, nascidos uns dos outros e renovando-se entre si, jamais nos desertam nem nos fatigam.

Como qualquer ferramenta, também a tristeza tem um uso próprio. Há campos que só conhecem a abundância depois dessa lavoura.

LXXX

Quando cheios de gosto, e de alegria
Estes campos diviso florescentes,
Então me vêm as lágrimas ardentes
Com mais ânsia, mais dor, mais agonia.

Aquele mesmo objeto, que desvia
Do humano peito as mágoas inclementes,
Esse mesmo em imagens diferentes
Toda a minha tristeza desafia.

Se das flores a bela contextura
Esmalta o campo na melhor fragrância,
Para dar uma idéia da ventura;

Como, ó Céus, para os ver terei constância,
Se cada flor me lembra a formosura
Da bela causadora de minha ânsia?

Tudo quanto na nossa existência não faz parte do nosso sentido da vida funcionará sempre como um peso, grão de areia na engrenagem, semente que se há de fazer raiz de tristeza.