O telemóvel… é uma ferramenta para aqueles cujas profissões requerem uma resposta rápida, tais como médicos ou canalizadores.
Passagens de Umberto Eco
114 resultadosAs mentiras são mais fascinantes do que a verdade. A ‘Ilíada’ é mais atraente do que uma reportagem no Iraque.
Um Silêncio Cauto e Prudente é o Cofre da Sensatez
– (…) Vós quereis tentar a sorte na grande cidade, e sabeis bem que é lá que deveis gastar essa aura de valentia que a longa inacção dentro destas muralhas vos houver concedido. Procurareis também a fortuna, e devereis ser hábil a obtê-la. Se aqui aprendeste a escapar à bala de um mosquete, lá deveis aprender a saber escapar à inveja, ao ciúme, à rapacidade, batendo-vos com armas iguais com os vossos adversários, ou seja, com todos. E portanto escutai-me. Há meia hora que me interrompeis dizendo o que pensais, e com o ar de interrogar quereis mostrar-me que me engano. Nunca mais o façais, especialmente com os poderosos. Às vezes a confiança na vossa argúcia e o sentimento de dever testemunhar a verdade poderiam impelir-vos a dar um bom conselho a quem é mais do que vós. Nunca o façais. Toda a vitória produz ódio no vencido, e se se obtiver sobre o nosso próprio senhor, ou é estúpida ou é prejudicial. Os príncipes desejam ser ajudados mas não superados.
Mas sede prudente também com os vossos iguais. Não humilheis com as vossas virtudes. Nunca falei de vós mesmos: ou vos gabaríeis, que é vaidade, ou vos vituperaríeis,
Se as pessoas compram meus livros por vaidade, considero que é um imposto sobre a idiotice.
O objectivo de uma história é ensinar e agradar ao mesmo tempo, e o que ensina é como reconhecer as armadilhas do mundo.
Alguns reprimem com tanta veemência a ponto de impelirem muitos a se tornarem partícipes, por ódio a eles. Na verdade, um círculo imaginado pelo demônio. Que Deus nos livre.
Atingiremos um estágio mais perfeito quando conseguirmos ficar juntos sem falar, bastará tocar-te para me entenderes da mesma forma.
Por causa das mentiras, podemos produzir e inventar um mundo possível.
Nem todas as verdades são para todos os ouvidos.
Nada inspira mais coragem ao medroso do que o medo alheio.
A ausência é para o amor o que o vento é para o fogo: extingue a pequena chama, e inflama a grande.
É Virtude Dissimular a Virtude
– Vede, caro Roberto, o senhor de Salazar não diz que o sensato deve simular. Sugere-vos, se bem entendi, que deve aprender a dissimular. Simula-se o que não se é, dissimula-se o que se é. Se vos gabardes do que não fizestes, sois um simulador. Mas se evitardes, sem fazê-lo notar, mostrar em pleno o que fizestes, então dissimulais. É virtude acima de todas as virtudes dissimular a virtude. O senhor de Salazar está a ensinar-vos um modo prudente de ser virtuoso, ou de ser virtuoso de acordo com a prudência. Desde que o primeiro homem abriu os olhos e soube que estava nu, procurou cobrir-se até à vista do seu Fazedor: assim a diligência no esconder quase nasceu com o próprio mundo. Dissimular é estender um véu composto de trevas honestas, do qual não se forma o falso mas sim dá algum repouso ao verdadeiro.
A rosa parece bela porque à primeira vista dissimula ser coisa tão caduca, e embora da beleza mortal costume dizer-se que não parece coisa terrena, ela não é mais do que um cadáver dissimulado pelo favor da idade. Nesta vida nem sempre se deve ser de coração aberto, e as verdades que mais nos importam dizem-se sempre até meio.
Eu definiria o efeito poético como a capacidade que um texto oferece de continuar a gerar diferentes leituras, sem nunca se consumir de todo.
No momento em que todos têm direito à palavra na internet temo-la dada aos idiotas, que de outro modo nunca seriam lidos noutro sítio.
Se alguém escreve um livro e não cuida da sobrevivência desse livro, então é um imbecil.
Respirar é essencial. Ler o texto, lê-lo em voz alta, muitas vezes, para controlar o ritmo. O ritmo muda de livro para livro. Os meus romances anteriores, de 500 páginas, são como sinfonias de Mahler, enquanto este último, ‘Número Zero’, é como o jazz. Por vezes digo aos meus tradutores: ‘Estás a explicar demasiado e a perder o ritmo.’.
Existe apenas uma coisa que excita os animais mais do que o prazer, é a dor.
Eu vejo as notícias na televisão mas nos jornais leio principalmente a Opinião. Quanto aos enganos que se encontram na imprensa, percebo que resultam da obrigação de encher muitas páginas. Até porque reparo que mesmo os jornais muito importantes se enganam.
A credulidade é uma forma de evitar o desespero, a desilusão – de evitar o medo da morte.
Nenhum romancista pode imaginar algo mais terrível que a verdade.