Quero dizer-vos a diferença entre o lobo e o homem: nenhuma, excepto uma, na velhice… o lobo entra nos bosques para esperar o seu fim sozinho: o homem, quanto mais sente que a morte se aproxima, mais busca companhia, mesmo se ele se aborrece e se ela o aborrece.
Passagens sobre Velhice
269 resultadosMeus planos finais: solidão eremítica nas florestas, escrever tranquilamente na velhice.
Na juventude, imaginamos o mundo repleto de felicidade e prazer, sendo que a única dificuldade é alcançá-los, enquanto na velhice sabemos que do mundo não há muito a esperar. Logo, acalmados por completo, fruímos um presente suportável e encontramos alegria até mesmo em miudezas.
A mocidade ociosa, velhice trabalhosa.
A cultura é o melhor conforto para a velhice.
O que é trágico na velhice é que a morte é normal. E a sua vantagem também.
Oh Mil Vezes Feliz
Oh mil vezes feliz o que encerrado
Entre baixas paredes
O tormentoso Inverno alegre passa;
Que de um pequeno campo,
Que ele mesmo cultiva, se alimenta
Apascentando as vacas,
Que da mão paternal somente herdou
C’os dourados novilhos.
Enquanto sobre a terra se reclina
Dormindo descansado
Ao som das frescas águas de um regato,
Horrorosos cuidados
O não vem perturbar no brando sono;
A sórdida cobiça
Lhe não faz conceber vastos projectos;
Não pensa, não intenta
Atravessar o Cabo tormentoso,
Sofrer chuvas e ventos,
Ouvir roncar as denegridas ondas,
E ver na feia noite
Entre nuvens a Lua ir escondendo
O macilento rosto,
Por ir comerciar cos pardos índios
E Chinas engenhosos.
A sede insaciável de riquezas
Não faz que exponha a vida
Nos desertos sertões às verdes cobras,
E aos remendados tigres.
Ah ilustre Soeiro, doce Amigo,
O ouro de que serve,
Se os anos vão correndo tão velozes!
Se a morte não consente,
Que a enrugada e pálida velhice
Com passos vagarosos
Nos venha coroar de níveas cãs?
Certamente a vida não existe para ser aproveitada, mas para ser suportada e despachada… De facto, é um conforto na velhice ter o trabalho da vida por trás de si.
Filosofar é Preciso
Na juventude, não devemos hesitar em filosofar; na velhice, não devemos deixar de filosofar. Nunca é cedo nem tarde demais para cuidar da própria alma. Quem diz que não é ainda, ou já não é mais, tempo de filosofar, parece-se ao que diz que não é ainda, ou já não é mais, tempo de ser feliz. Jovens ou velhos, devemos sempre filosofar; no último caso, para rejuvenescermos ao contacto do bem, pela lembrança dos dias passados, e no primeiro, para sermos, embora jovens, tão firmes quanto um ancião diante do futuro. É mister, pois, estudar os meios de adquirir a felicidade; quando a temos, temos tudo; quando a não temos, fazemos tudo por adquiri-la.
A mocidade é um sonho que deleita, a velhice uma vigília que incomoda.
Velhice é doença.
O cansaço é uma velhice súbita.
A velhice é um naufrágio.
Juventude leviana faz velhice desolada.
Um sentimento define-se segundo a pessoa que se é. Quando jovem, o amor é um impossível que se deseja possibilitar e que quando isso acontece se desfaz. Na velhice o amor define-se como uma grande paciência. Como às vezes se define o génio.
Os outros enxergam a velhice que se esconde em nós.
Uma fealdade e uma velhice confessada são, a meu ver, menos velhas e menos feias do que outras disfarçadas e esticadas.
Mãe
Olha, meu filho! quando, à aragem fria
De algum torvo crepúsculo, encontrares
Uma árvore velhinha, em modo e em ares
De abandono e outonal melancolia,Não passes junto dela nesse dia
E nessa hora de bênçãos, sem parares;
Não vás, sem longamente a contemplares:
Vida cansada, trémula e sombria!Já foi nova e floriu entre esplendores:
Talvez em derredor, dos seus amores
Inda haja filhos que lhe queiram bem…Ama-a, respeita-a, ampara-a na velhice;
Sorri-lhe com bondade e com meiguice:
— Lembre-te, ao vê-la, a tua própria Mãe!
Quarenta Anos
Sim! como um dia de verão, de acesa
Luz, de acesos e cálidos fulgores,
Como os sorrisos da estação das flores,
Foi passando também tua beleza.Hoje, das garras da descrença presa,
Perdes as ilusões. Vão-se-te as cores
Da face. E entram-te n’alma os dissabores,
Nublam-te o olhar as sombras da tristeza.Expira a primavera, O sol fulgura
Com o brilho extremo. . . E aí vêm as noites frias,
Aí vem o inverno da velhice escura…Ah! pudesse eu fazer, novo Ezequias,
Que o sol poente dessa formosura
Volvesse à aurora dos primeiros dias!
Tão perigosa é a mocidade pelos excessos que pratica, como a velhice pelos achaques.