A virtude Ă© difĂcil de se manifestar, precisa de alguĂ©m para orientá-la e dirigi-la. Mas os vĂcios sĂŁo aprendidos sem mestre.
Passagens sobre VĂcio
362 resultadosA inveja Ă© natural ao homem. No entanto, ela Ă©, ao mesmo tempo, um vĂcio e uma desgraça. A inveja dos homens mostra o quanto se sentem infelizes; a sua atenção constante Ă s acções e omissões dos outros mostra o quanto se entediam.
A mentira apenas Ă© um vĂcio quando faz mal; Ă© uma grande virtude quando faz bem.
O vĂcio Ă© o tirano de si mesmo.
A Raiz do VĂcio
Um vĂcio, apesar de ser uma terrĂvel dependĂŞncia e um pĂ©ssimo hábito, Ă© um escape maravilhoso e uma profunda ilusĂŁo acerca do «sentir bem». Quando nĂŁo tens nada para fazer ou nĂŁo sabes como te acalmar fumas uns cigarros ou coisas do gĂ©nero, entopes-te de comida, bebes uns copos e assim andas sempre ocupado e falsamente tranquilo, pois apĂłs o efeito seja do que for voltas ao mesmo estado em que te encontravas. PerdĂŁo, nĂŁo me fiz entender bem: fumas sem vontade de fumar, comes sem vontade de comer e bebes sem vontade de beber. Isto Ă© ser viciado, Ă© pura poluição, sobretudo quando nĂŁo existe um desejo natural de fazĂŞ-lo. Esclarecido? Ă“timo. Já percebeste o teu desafio? NĂŁo, nĂŁo Ă© deixares de ser um viciado, isso nĂŁo Ă© um problema porque tens consciĂŞncia que o Ă©s, logo, podes mudar quando entenderes apaixonar-te por ti, o problema Ă© outro e, se queres saber, bem mais sĂ©rio. Consegues descobri-lo? Era excelente se o dissesses antes de me leres: significaria que tambĂ©m já estarias consciente disso e, nesse sentido, deixaria de ser mais um problema na tua vida. Os problemas sĂŁo, Ăşnica e exclusivamente, fruto da inconsciĂŞncia, pois quando se tem consciĂŞncia do que se passa já nĂŁo Ă© um problema,
A ociosidade, mĂŁe de todos os vĂcios, tambĂ©m gera alguns prazeres.
O vĂcio chega Ă s portas da necessidade, nĂŁo Ă s portas da inclinação.
Vontade Contrariada pelo Carácter
Suponho que homem algum pode violar a sua natureza. Todos os Ămpetos da nossa vontade sĂŁo torneados pela lei do nosso ser, assim como as desigualdades dos Andes e do Himalaia se tornam insignificantes na curvatura da esfera. Tam-pouco importa como o meças e experimentes. Um carácter Ă© como um acrĂłstico ou como uma estância alexandrina: lido para diante, para trás, ou de travĂ©s, diz sempre o mesmo.
(…) Passamos pelo que somos. O carácter fala mais alto do que a nossa vontade. Os homens imaginam que podem patentear as suas virtudes ou os seus vĂcios somente atravĂ©s de acções ostensivas, e nĂŁo se dĂŁo conta de que, a todo o momento, a virtude e o vĂcio exalam o seu alento.
As Minhas Fraquezas
Há uma certa fraqueza, uma falha em mim que Ă© suficientemente clara e distinta mas difĂcil de descrever: Ă© uma mistura de timidez, reserva, verbosidade, tibieza; pretendo com isto caracterizar qualquer coisa de especĂfico, um grupo de fraquezas que sob um certo aspecto constituem uma Ăşnica fraqueza claramente definida (o que nĂŁo tem nada a ver com esses vĂcios graves que sĂŁo a mentira, a vaidade, etc.). Esta fraqueza impede-me de enlouquecer, eu cultivo-a; com medo da loucura, sacrifico toda a ascensĂŁo que eu poderia fazer e perderei de certeza o negĂłcio, porque nĂŁo Ă© possĂvel fazerem-se negĂłcios nesta esfera. A menos que a sonolĂŞncia nĂŁo se misture e com o seu trabalho diurno e nocturno nĂŁo quebre todos os obstáculos e nĂŁo prepare o caminho. Mas nesse caso serei apanhado pela loucura — porque para se fazer uma ascensĂŁo Ă© preciso querer-se e eu nĂŁo queria.
Judia
Ah! Judia! Judia impenitente!
De erma e de turva regiĂŁo sombria
De areia fulva, bárbara, inclemente,
Numa desolação, chegaste um dia…TravĂ©s o cĂ©u mais tĂłrrido, mais quente,
Onde a luz mais flamĂvoma radia,
A voz dos teus, nostálgica, plangente,
Vibrou, chorou, clamou por ti, Judia!Ave de melancólicos mistérios,
Ruflaste as asas por Azuis sidérios,
Ébria dos vĂcios cĂ©lebres que salvam…Para alguns corações que ainda te buscam
És como os sóis que rútilos coruscam
E a torva terra do deserto escalvam!
A crueldade Ă© um dom, se corresponde a uma denĂşncia da cobardia no seu todo, mas Ă© um vĂcio se Ă© a consagração da parcialidade. A vingança Ă© uma parcialidade. A desmesura Ă© parcialidade. A grandeza Ă© o todo.
Sexta-Feira Santa
Lua absĂntica, verde, feiticeira,
Pasmada como um vĂcio mosntruoso…
Um cão estranho fuça na esterqueira,
Uivando para o espaç fabuloso.É esta a negra e santa Sexta-Feira!
Cristo está morto, como um vil leproso,
Chagado e frio, na feroz cegueira
Da morte, o sangue roxo e tenebroso.A serpente do mal e do pecado
Um sinistro veneno esverdeado
Verte do Morto na mudez serena.Mas da sagrada Redenção do Cristo,
Em vez do grande Amor, puro, imprevisto,
Brotam fosforescĂŞncias de gangrena!
O vĂcio e a virtude sĂŁo vizinhos.
Graças Ă sombra, apreciamos a luz; graças ao vĂcio, admiramos a virtude.
A vergonha Ă© um fosso que a natureza coloca entre a virtude e o vĂcio
A vergonha Ă© um fosso que a natureza coloca entre a virtude e o vĂcio.
A Voltinha é uma Instituição Nacional
Agora que os Portugueses voltam a casar-se pela Igreja e a fazer juramentos solenes de fidelidade onde prometem que não irão enganar os cônjuges (mesmo que os cônjuges fiquem intoleravelmente leprosos ou maçadores ou miseráveis), as pessoas têm de saber enfrentar as facilidades, dificuldades e dúvidas da fidelidade.
Por exemplo, «a voltinha» é uma instituição nacional. Dar «uma voltinha» com alguém não é andar com alguém — é «ver como anda».
Como quem dá uma voltinha ao quarteirão na motocicleta do padeiro. Monta-se, pega-se de empurrão, dá-se a voltinha, desmonta-se e desliga-se. «Chegaste a andar com ele?», pergunta uma parola mais curta. «És parva!, — responde a mais alta, — dei só uma voltinha!».
A ideia é que a voltinha «não vale». Não se fala, não se paga, não se recorda, não se conta; enfim, «não conta». As voltinhas estão para as relações humanas como os brindes da Juá para o sistema económico português: não entram no orçamento. Quando se vai «dar uma voltinha» com alguém, não se vai nem com muita vontade nem com muita pressa — vai-se. Não faz sentido dizer que se «deseja» dar uma voltinha com alguém. As voltinhas não são o resultado de grandes planos e seduções — «proporcionam-se» (eis o verbo moderno mais estúpido).
Quem quer vĂcios, paga-os.
As paixões, quando mandam em nĂłs, sĂŁo vĂcios.
As Melhores Acções Perdem Efeito Pela Forma Como São Executadas
As melhores acções se alteram e enfraquecem pela maneira por que sĂŁo praticadas, e deixam atĂ© duvidar das intenções. Aquele que protege ou louva a virtude pela virtude, que corrige e reprova o vĂcio por causa do vĂcio, simplesmente, naturalmente, sem nenhum rodeio, sem nenhuma singularidade, sem ostentação, sem afectação: nĂŁo usa respostas graves e sentenciosas, ainda menos os detalhes picantes e satĂricos; nĂŁo Ă© nunca uma cena que ele representa para o pĂşblico, Ă© um bom exemplo que dá e um dever que cumpre; nĂŁo fornece nada Ă s visitas das mulheres, nem ao pavilhĂŁo, nem aos jornalistas; nĂŁo dá a um homem espirituoso matĂ©ria para boa anedota. O bem que acaba de fazer Ă© um pouco menos sabido e conhecido pelos outros, na verdade; mas fez esse bem; que Ă© que ele queria mais ?
O vĂcio, tal como a virtude, cresce em passos pequenos.