Ai, a lua que no céu surgiu Não é a mesma que te viu Nascer dos braços meus Cai a noite sobre o nosso amor E agora só restou do amor Uma palavra: adeus
Passagens de Vinicius de Moraes
171 resultadosSoneto Da Hora Final
Será assim, amiga: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente,
O beijo leve de uma aragem fria.Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia
E partiremos, tontos de poesia
Para a porta de trevas, aberta em frente.Ao transpor as fronteiras do segredo
Eu, calmo, te direi: – Não tenhas medo
E tu, tranqüila, me dirás: – Sê forte.E como dois antigos namorados
Noturnamente tristes e enlaçados
Nós entraremos nos jardins da morte.
Tomara que a tristeza te convença, que a saudade não compensa e que a ausência não dá paz.
Apavorado acordo, em treva o luar é como o espectro do meu sonho em mim e sem destino, e louco, sou o mar patético, sonâmbulo e sem fim
Serei delicado. Sou delicado. Morro de delicadeza.
Um novo dia vem nascendo. Um novo sol já vai raia. Parece a vida, rompendo em luz, E que nos convida a amar
Ah, se eu pudesse dizer tudo que tenho trancado aqui no peito. Mas não posso. Eu não posso nem chorar. Eu acho que, se eu chorasse, iam sair pedras dos meus olhos.
Octavio
Toca a boca, olha as coisas abstrato
Percorre da varanda os quatro cantos
E tirando do corpo um carrapato
Imagina o romance mil e tantos…Logo após olha o mundo e o vê morrendo
Sob a opressão tirânica do mal
E como um passarinho, vai correndo…
Escrever um tratado socialÉ amigo de um “braço” na poesia
E de um outro que é só filosofia
E de um terceiro, romancista: vejaQuanto livro a escrever ainda teria
O ditador Octavio de Faria
Sob o signo cristão da nova Igreja…
Nada renasce antes que se acabe. E o sol que desponta tem de anoitecer.
Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval.
Quem já passou por essa vida e não viveu Pode ser mais, mas sabe menos do que eu Porque a vida só se dá pra quem se deu Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Críticos são sujeitos que têm mau hálito no pensamento.
Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso – para viver um grande amor.
Quatro Sonetos De Meditação – I
Mas o instante passou. A carne nova
Sente a primeira fibra enrijecer
E o seu sonho infinito de morrer
Passa a caber no berço de uma cova.Outra carne virá. A primavera
É carne, o amor é seiva eterna e forte
Quando o ser que viveu unir-se à morte
No mundo uma criança nascerá.Importará jamais por quê? Adiante
O poema é translúcido, e distante
A palavra que vem do pensamentoSem saudade. Não ter contentamento.
Ser simples como o grão de poesia
E íntimo como a melancolia.
(…) e de amar assim, muito amiúde, é que um dia, em teu corpo de repente, hei de morrer de amar mais do que pude.
O amor é uma agonia Vem de noite, vai de dia É uma alegria E de repente Uma vontade de chorar
E ao me sentir ausente Me busque novamente – e se deixes a dormir Quando, pacificado, eu tiver de partir…
Da morte apenas, nascemos imensamente.
O tempo nos parques envolve de redomas invisíveis os que se amam.
Soneto Na Morte De José Arthur Da Frota Moreira
Cantamos ao nascer o mesmo canto
De alegria, de súplica e de horror
E a mulher nos surgiu no mesmo encanto
Na mesma dúvida e na mesma dor.Criamos toda a sedução, e tanto
Que de nós seduzido, o sedutor
Morreu nas mesmas lágrimas de amor
Ao milagre maior do amor em pranto.Fui um pouco teu cão e teu mendigo
E tu, como eu, mendigo de outro pão
Sempre guardaste o pão do teu amigoMeu misterioso irmão, sigo contigo
Há tanto, tanto tempo, mão na mão…
Ouve como chora o coração.