Antes que Vosso Amor Meu Peito Vença
Serå brando o rigor, firme a mudança,
Humilde a presunção, våria a firmeza,
Fraco o valor, cobarde a fortaleza,
Triste o prazer, discreta a confiança;Terå a ingratidão firme lembrança,
SerĂĄ rude o saber, sĂĄbia a rudeza,
Lhana a ficção, sofĂstica a lhaneza,
Ăspero o a mor, benigna a esquivança;SerĂĄ merecimento a indignidade,
Defeito a perfeição, culpa a defensa,
Intrépito o temor, dura a piedade,Delito a obrigação, favor a ofensa,
Verdadeira a traição, falsa a verdade,
Antes que vosso amor meu peito vença.
Passagens de Violante do CĂ©u
5 resultadosSe Ausente da Alma Estou, que me DĂĄ Vida?
Se apartada do corpo a doce vida,
Domina em seu lugar a dura morte,
De que nasce tardar-me tanto a morte
Se ausente da alma estou, que me dĂĄ vida?NĂŁo quero sem Silvano jĂĄ ter vida,
Pois tudo sem Silvano Ă© viva morte,
JĂĄ que se foi Silvano, venha a morte,
Perca-se por Silvano a minha vida.Ah! suspirado ausente, se esta morte
NĂŁo te obriga querer vir dar-me vida,
Como nĂŁo ma vem dar a mesma morte?Mas se na alma consiste a prĂłpria vida,
Bem sei que se me tarda tanto a morte,
Que Ă© porque sinta a morte de tal vida.
Tirano Deus Cupido
Que suspensĂŁo, que enleio, que cuidado
Ă este meu, tirano deus Cupido?
Pois tirando-me enfim todo o sentido
Me deixa o sentimento duplicado.Absorta no rigor de um duro fado,
Tanto de meus sentidos me divido,
Que tenho sĂł de vida o bem sentido
E tenho jĂĄ de morte o mal logrado.Enlevo-me no dano que me ofende,
Suspendo-me na causa de meu pranto
Mas meu mal (ai de mim!) nĂŁo se suspende.Ă cesse, cesse, amor, tĂŁo raro encanto
Que para quem de ti nĂŁo se defende
Basta menos rigor, nĂŁo rigor tanto.
Enfim Fenece o Dia
Enfim fenece o dia,
Enfim chega da noite o triste espanto,
E nĂŁo chega desta alma o doce encanta
Enfim fica triunfante a tirania,
Vencido o sofrimento,
Sem alĂvio meu mal, eu sem alento,
A sorte sem piedade,
Alegre a emulação, triste a vontade,
O gosto fenecido,
Eu infelice enfim, Lauro esquecido…
Quem viu mais dura sorte?
Tantos males, amor, para uma morte?
NĂŁo basta contra a vida
Esta ausĂȘncia cruel, esta partida?NĂŁo basta tanta dor? tanto receio?
Tanto cuidado, ai triste, e tanto enleio?
NĂŁo basta estar ausente,
Para perder a vida infelizmente?
Se não também, cruel, neste conflito
Me negas o socorro de um escrito?
Porque esta dor que a alma me penetra
NĂŁo ache o maior bem na menor letra,
Ai! bem fazes, amor, tira-me tudo!
NĂŁo hĂĄ alĂvio, nĂŁo, nĂŁo hĂĄ escudo,
Que a vida me defenda,
Tudo me falte, enfim, tudo me ofenda,
Tudo me tire a vida,
Pois eu a nĂŁo perdi na despedida.
A uma Suspeita
Amor, se uma mudança imaginada
Ă com tanto rigor minha homicida,
Que farĂĄ, se passar de ser temida,
A ser, como temida, averiguada?Se sĂł por ser de mim tĂŁo receada,
Com dura execução me tira a vida,
Que farĂĄ, se chegar a ser sabida?
Que farå, se passar de suspeitada?Porém, jå que me mata, sendo incerta,
Somente o imaginĂĄ-la e presumi-la,
Claro estĂĄ, pois da vida o fio corta.Que me farĂĄ depois, quando for certa,
Ou tornar a viver para senti-la,
Ou senti-la também depois de morta.